domingo, 11 de maio de 2014

Depois do fogo. E agora...! - Verão de 2000 - Bol Antigos - nº 6

DEPOIS DO FOGO. E AGORA...!
por Fernando Licínio
VERÃO DE 2000


         Quando da criação deste boletim e desta asso­ciação, foi apadrinhada uma bela paisagem, desde o rio Tedo ao rio Távora. Belas montanhas e vales, tudo era verde devido à vegetação que ali havia. Por esses lugares podíamos visitar monumentos históricos e contemplar a paisagem.
           De repente, mal o calor apertou, vieram os incêndios que devoraram toda esta região. O fogo principiou na Granja do Tedo. Ninguém foi capaz de o parar até ao rio Távora. Ultrapassou cami­nhos, estradas, searas e tudo o que se encontrava no seu caminho foi devorado.
       Os célebres palhais, que foram feitos pelos nossos antepassados para guardar apetrechos agrícolas e lenha, foram também devorados pelo Fogo. A Quinta do Jardim, que já tinha ardido pelo menos duas vezes, foi novamente devorada pelas chamas. A Quinta do Casal, que continha olivais e vinhas e a Quinta do Pinheiro, desapareceram quase por completo. Esta Quinta, dá-me muitas saudades, era ali que o povo de Cabris se juntava para debulhar o milho. Os irmãos Monteiro, seus donos, eram uma simpatia! Quando lá trabalháva­mos, serviam-nos belas refeições, e todos nós lá comíamos com gosto! A comida era feita pelas mulheres com alegria e boa disposição. Durante as refeições cortavam-se belas passagens da vida que nos faziam rir. Os bailes que ali se faziam ao som do harmónico divertiam-nos imenso. No seu tempo esta Quinta era das mais célebres, agora só restam dela ruínas.
       Toda esta desgraça me faz perguntar: E agora!? O que será desta paisagem, dos Castelos de Cabris, do Monte Verde e das nossas serras. Tudo se encontra rapado, pois os pinheiros, mesmo ardidos, já foram cortados e vendidos. Daqui pra a frente, só vão nascer silvas e giestas.
       O que será dos nossos nascentes? Como não há vegetação, por mais que chova, a água corre para os ribeiros e não se fixa no interior da terra, arrastando tudo e deixando os penedos totalmente lavados. Com tantos incêndios estamos a tornar esta região um autêntico deserto...
Fernando Licínio




quinta-feira, 1 de maio de 2014

A FONTE DA VILA - Boletins Antigos - Bol Nº 6 - ano de 2001

Descoberta no Passeio pela Aldeia
A FONTE DA VILA
por Fernando Carlos Taveira Cardoso Teixeira
Verão de 2000




         Na entrada norte da antiga Vila de Sendim, pisámos umas antigas pedras romanas que constituem o caminho de Santo Ovídio. À chegada, passámos a primeira casa, cortámos à direita e fo­mos dar com um carreiro que nos levou a uns quintais. Mais à frente, depois de passarmos o ribeiro, encontrámos uma surpreendente fonte. O próprio caminho que percorríamos, transmitia história, porque ali se encontravam espalhados pelo chão restos de antiga cerâmica caseira.
Entrada Norte da Vila de Sendim
Caminho de Santo Ovídio

Fonte da vila no dia em que a visitei 
pela primeira vez

       O enquadramento daquele lugar é feito por antigos castanheiros e por murados de granito constituídos por pedras soltas, arranjadas e recolhidas no meio dos campos. O terreno é formado por socalcos que compõem a encosta. A primeira vez que ali fui, a fonte encontrava-se praticamente invisível pela abundância de silvas que cresceram em seu redor. Atualmente, e graças a uma limpeza, podemos observar toda a sua beleza.

Casa de elementos medievais à entrada
de Sendim junto ao caminho que a leva 
à fonte

Esta casa aparenta ter sido sujeita a várias modificações, tem no entanto sinais de portas com cantaria de características Medievais. As ombreiras e vergas, são quinadas nas arestas. O que é comum a construções dessa época existentes na nossa região. Também o cunhal que vemos em primeiro plano apresenta uma cantaria muito antiga. É pena o estado de conservação da casa, que mesmo assim tem uma arquitetura de valor importante para o local.

Casa em 2014

Esta fonte deve ser a mais antiga que por aqui encontramos. É uma fonte de mergulho, onde empregaram um arco em ogiva, de características medievais, que guarda, no seu interior, um pequeno tanque cheio de água. O tanque, o mura­do do fundo e a pequena abóbada foram construídos por cantaria relativamente bem talhada. À sua volta, lateral e superiormente, encontramos um tosco amontoado de pedras que envolvem a fonte. Esta situação é curiosa, podendo mesmo fazer-nos pensar que o monte de pedras resultou da demolição do que poderia ter sido um complemento arquitetónico da fonte, ou o resto de um pequeno edifício que a continha.

Fonte da Vila depois da limpeza
efetuada pela Junta de Freguesia de
Sendim

A sua localização manteve esta anti­guidade, longe de muitos olhares, e por isso para muitos continua desconhecida. É no entanto um elemento muito impor­tante do património de Sendirn, por apre­sentar um arco em ogiva. São poucas no país as fontes que eu conheço com estas características. Existe uma aqui perto, em Aguiar da Beira, classificada e integrada no núcleo medieval da vila. Não deveria a nossa também ser classificada como monumento de interesse concelhio?

Sendim, Verão de 2000
Fernando Carlos Taveira Cardoso Teixeira
Fotografia:
António José Teixeira Silva


FONTE DA VILA E ENVOLVÊNCIA EM 2013: