DEPOIS DO FOGO. E AGORA...!
por Fernando Licínio
VERÃO DE 2000
Quando
da criação deste boletim e desta associação, foi apadrinhada uma bela paisagem, desde o rio
Tedo ao rio Távora. Belas montanhas e vales, tudo era verde devido à vegetação
que ali havia. Por esses lugares podíamos visitar monumentos históricos e
contemplar a paisagem.
De repente, mal o calor apertou,
vieram os incêndios que devoraram toda esta região. O fogo principiou na Granja
do Tedo. Ninguém foi capaz de o parar até ao rio Távora. Ultrapassou caminhos,
estradas, searas e tudo o que se encontrava no seu caminho foi devorado.
Os célebres palhais, que foram
feitos pelos nossos antepassados para guardar apetrechos agrícolas e lenha, foram
também devorados pelo Fogo. A Quinta do Jardim, que já tinha ardido pelo menos
duas vezes, foi novamente devorada pelas chamas. A Quinta do Casal, que
continha olivais e vinhas e a Quinta do Pinheiro, desapareceram quase por
completo. Esta Quinta, dá-me muitas saudades, era ali que o povo de Cabris se
juntava para debulhar o milho. Os irmãos Monteiro, seus donos, eram uma
simpatia! Quando lá trabalhávamos, serviam-nos belas refeições, e todos nós lá
comíamos com gosto! A comida era feita pelas mulheres com alegria e boa
disposição. Durante as refeições cortavam-se belas passagens da vida que nos
faziam rir. Os bailes que ali se faziam ao som do harmónico divertiam-nos
imenso. No seu tempo esta Quinta era das mais célebres, agora só restam dela
ruínas.
Toda
esta desgraça me faz perguntar: E agora!? O que será desta paisagem, dos
Castelos de Cabris, do Monte Verde e das nossas serras. Tudo se encontra
rapado, pois os pinheiros, mesmo ardidos, já foram cortados e vendidos. Daqui
pra a frente, só vão nascer silvas e giestas.
O que será dos nossos nascentes?
Como não há vegetação, por mais que chova, a água corre para os ribeiros e não
se fixa no interior da terra, arrastando tudo e deixando os penedos totalmente
lavados. Com tantos incêndios estamos a tornar esta região um autêntico deserto...
Fernando Licínio