BOLETINS ANTIGOS - Boletim nº 1 (conclusão)

SANTA  BÁRBARA  DE  SENDIM

Andor de Santa Bárbara na festa em sua honra - Sendim - Agosto de 2010

Quatro de Dezembro, dia que a Igreja Católica dedica a Santa Bárbara. Não sei se é por todo o nosso país, mas pelo menos na nossa Região, inserida no Alto Douro, em quase todas as povoações existe uma capelinha onde Santa Bárbara é venerada e em muitas mesmo, organizada uma festa todos os anos.

É talvez entre todos os Santos, a Santa mais invocada, principalmente pelos agricultores, visto ser a padroeira das trovoadas e outras intempéries que vêm prejudicar as suas culturas.

Desde pequenina me recordo que, quando surgia uma trovoada, nos aninhávamos, assustados, em volta da nossa mãe para que connosco ela rezasse à Santa Bárbara. Ela rezava e nós repetíamos com ela, até que acabámos por memorizar as orações e depois as rezámos com os nossos filhos:

"Santa Bárbara bendita

Que no Céu está escrita

Com papel e água benta,

Deus nos livre desta tormenta."

Ou então:

"Santa Bárbara se levantou,

Seus sapatinhos calçou,

Ao caminho se deitou

E Nossa Senhora encontrou

Que lhe perguntou:

Para onde vais Bárbara?

Vou espalhar esta trovoada

Que no céu está armada.

- Então espalha-a bem espalhadinha

Para onde não haja pão nem vinho  

Nem bafo de menino."

Havia também quem rezasse a «Magnificat».

E depois de rezarmos estas orações, no aconchego dos nossos lares, ficá­vamos menos assustados e convencidos que a trovoada se afastava mesmo de nós e já não nos iria acontecer mal algum.

Pois na nossa terra, Sendim, existe também uma capelinha dedicada a Santa Bárbara. Todos os anos, no dia que lhe é dedicado, 4 de Dezembro, se celebra aí missa, muito frequentada, tornando-se a capelinha pequena para acolher as pessoas que aí ocorrem. Aconteceu porém que o ano passado [1998], quando a missa foi celebrada, a imagem não estava no seu lugar mas sim na mesa da celebração. E isto porquê? Porque o altar, além de estar com as peças que o consti­tuíam, bem como as pinturas, todas deterioradas, estava também com­pletamente deslocado da parede e com uma inclinação tal que não se podia pousar-lhe nada em cima.

Este estrago deveu-se não só ao facto de já há muito tempo não ter sofrido qualquer melhoramento mas talvez e principalmente, também uma superstição que há alguns anos existia na nossa terra e que felizmente parece já ter acabado. Era o seguinte: — Quando as senhoras se encontravam grávidas e o bebé estava para nascer, como naquele tempo ainda não havia maternidades, o marido, aflito, a primeira coisa que fazia era ir chamar a mulher jeitosa da aldeia, chamada "parteira", dirigia-se à capela de Santa Bárbara, subia ao telhado e virava uma telha ao contrário que era para o parto correr bem. Só que depois se esquecia de ir agradecer o bom sucesso do parto e voltar a colocar a telha que tinha virado ao contrário na posição devida. E assim, e porque antigamente nasciam muitas crianças, em pouco tempo o telhado ficava todo com as telhas viradas ao contrário e fora do seu lugar. Que acontecia? Vinha o Inverno, a água infiltrava-se pelo forro que era de madeira e entre os vários estragos que ia causando, o maior foi o do altar.

Este ano [1999] porém, no seu dia, Santa Bárbara já podia ocupar o seu lugar, no seu lindo altar que foi completamente restaurado, reconstruindo-se peças que já faltavam ou estavam imcompletas, e pintado com as cores da imagem e bas­tante dourado. Isto, devido à generosidade do povo de Sendim que correspondeu ao apelo feito pelo seu pároco, Reverendo Padre Dinis, contribuiu conforme as suas possibilidades económicas e a sua fé, conseguindo assim juntar-se a quantia suficiente para hoje nos orgulharmos do trabalho feito.

Entusiasmado, o povo resolveu fazer-lhe uma pequenina festa que além da habitual missa, teve sermão e uma pequena procissão com a imagem de Santa Bárbara colocada num andor devidamente ornamentado.

Que Santa Bárbara nos continue a proteger e a fazer com que a nossa fé n'Ela aumente cada vez mais.

Sr^a  Prof Maria Laura Sequeira (1999)

SANTA BÁRBARA!

Vai percorrendo a Aldeia, a Procissão

A passear nas ruas tantos andores

As Imagens passam em união

E a música toca os seus louvores.


Santa Bárbara tem honra de festa
Livra-nos da tormenta e dos trovões
A nossa fé hoje se manifesta
Aceita as nossas simples orações.


O coração rendeu-se comovido
Uma saudade afinal tem sentido
Porque o passado voltou a lembrar


Bendita seja a tradição n'Aldeia
Numa festa assim ela fica cheia
De beleza sã, que sabem guardar!

Aldeia de Sendim,
8-8-98
Isilda Teixeira