segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Em Tempos Medievais - Boletins Antigos - Bol. 8

EM TEMPOS MEDIEVAIS
Por: António de Távora
(2002)



         O cavaleiro empunhou a sua espada, aproximando-se do inimigo e, com um violento golpe, derrubou-o sobre o terreiro. Os monges ergue­ram a voz em penitência e o bobo agarrou-se ao cunhal da capela, amedrontado e vermelho.
         Eis que o sino tocou e, de imedia­to, a luta heróica atirava o guerreiro contra a violência da morte. Mas, inesperadamente, uma vós ouviu-se:
BASTA”...
         Um castelhano convidou uma dama para dançar... Comprem, comprem! São 5 reais... A feiticeira, os socos, o pão, a sopa..., tudo a condizer com a Idade Média! Ao anoitecer, o Lobisomem percorreu a feira alumiada por achas acesas, fa­zendo-nos reviver os tempos medievais num local como o Terreiro das Freiras que, atualmente, se anima com o homem do nosso século...



         Foi de facto um espectáculo notável: a magia, a ilusão, a música e o cenário completaram aquela tarde de sol e de temperatura amena. As personagens envolveram o públi­co, a gastronomia deleitou os mais gulosos. E os objetos!? Moedas, capacetes, cobras secas em frascos, tendas, espadas, animais, cálices de prata... As vestes! Vimos princesas e nobres, cavaleiros e anciãos, por momento o tempo tinha parado e a ilusão descontraiu-nos com a vontade de que aquele tempo voltasse...



         O evento decorreu na semana cul­tural organizada pela escola Secun­dária Dr. Joaquim Dias Rebelo. Citan­do as palavras dos organizadores: ”(...) A recriação da feira medieval implica uma viagem ao passado. O bulício dos mercados populares, os pregões dos bufarinheiros e dos almocreves, os arremessos dos trões cruzando-se com as músicas dos menestréis por sobre o burburinho da rija populaça debruçando-se nas bancas dos mesteirais. Pediu-se aos visitantes a necessária adesão àquela viagem para que não vejam as per­sonagens como pessoas do presente mas como figuras do passado, com características e maneiras que hoje já podem estar em desuso mas que eram comuns na Idade Média.(...)”
           Esta actividade, a que assistimos, contribuiu para a vivência do patrimó­nio da nossa região. O local escolhido é um espaço recuperado onde se im­plantam os edifícios mais importantes de Moimenta da Beira. Destaque-se o magnífico convento das freiras, cuja capela ostenta um belíssimo altar-mor em talha dourada e as paredes deco­radas com azulejos da época. Tam­bém o solar dos Guedes de fachada imponente de ricas cantarias traba­lhadas e de brasão ao cimo enqua­drou, como “Monumento”, aquele es­petáculo. O seu interior está comple­tamente reformulado. A espiritua­lidade da época daquele edifício apenas se revela nos tetos das salas superiores abobadadas e com pintu­ras barrocas. Em redor do restante terreiro desenvolvem-se, implan­tados, outros edifícios da época com uma forte e determinante presença urbana. As suas fachadas brancas, com janelas emolduradas a granito da região, sobressaem ao sol cativando o nosso olhar sempre que por ali passamos.



           É de lamentar que outros espaços daquela Vila não se encontrem também totalmente recuperados. As fachadas do largo do Tabolado mereciam igualmente um tratamento especial. É pena que este centro tenha sido desfigurado ao longo do século anterior.
           Outros locais e imóveis desta vila poderiam também ser recuperados como as Fontainhas e ruelas contí­guas.

         E é bom lembrar outros monu­mentos importantes do concelho, como a condenada antiga Igreja dos Arcozelos e o Magnifico Convento de S. Francisco que aguardam, há largos anos, a palavra “BASTA”!...


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