EM TEMPOS MEDIEVAIS
Por: António de Távora
(2002)
O cavaleiro empunhou a sua
espada, aproximando-se do inimigo e, com um violento golpe, derrubou-o sobre o
terreiro. Os monges ergueram a voz em penitência e o bobo agarrou-se ao cunhal
da capela, amedrontado e vermelho.
Eis que o sino tocou e, de
imediato, a luta heróica atirava o guerreiro contra a violência da morte. Mas,
inesperadamente, uma vós ouviu-se:
“BASTA”...
Um castelhano convidou uma
dama para dançar... Comprem, comprem! São 5 reais... A feiticeira, os socos, o
pão, a sopa..., tudo a condizer com a Idade Média! Ao anoitecer, o Lobisomem
percorreu a feira alumiada por achas acesas, fazendo-nos reviver os tempos medievais
num local como o Terreiro das Freiras que, atualmente, se anima com o homem do
nosso século...
Foi de facto um espectáculo
notável: a magia, a ilusão, a música e o cenário completaram aquela tarde de
sol e de temperatura amena. As personagens envolveram o público, a gastronomia
deleitou os mais gulosos. E os objetos!? Moedas, capacetes, cobras secas em
frascos, tendas, espadas, animais, cálices de prata... As vestes! Vimos
princesas e nobres, cavaleiros e anciãos, por momento o tempo tinha parado e a
ilusão descontraiu-nos com a vontade de que aquele tempo voltasse...
O evento decorreu na semana
cultural organizada pela escola Secundária Dr. Joaquim Dias Rebelo. Citando
as palavras dos organizadores: ”(...) A recriação da feira medieval
implica uma viagem ao passado. O bulício dos mercados populares,
os pregões dos bufarinheiros e dos almocreves, os arremessos dos trões
cruzando-se com as músicas dos menestréis por sobre o burburinho da rija
populaça debruçando-se nas bancas dos mesteirais. Pediu-se aos visitantes a
necessária adesão àquela viagem para que não vejam as personagens como pessoas
do presente mas como figuras do passado, com características e maneiras que
hoje já podem estar em
desuso mas que eram comuns na Idade Média.(...)”
Esta actividade, a que assistimos,
contribuiu para a vivência do património da nossa região. O local escolhido é
um espaço recuperado onde se implantam os edifícios mais importantes de
Moimenta da Beira. Destaque-se o magnífico convento das freiras, cuja capela
ostenta um belíssimo altar-mor em talha dourada e as paredes decoradas com
azulejos da época. Também o solar dos Guedes de fachada imponente de ricas cantarias
trabalhadas e de brasão ao cimo enquadrou, como “Monumento”, aquele espetáculo.
O seu interior está completamente reformulado. A espiritualidade da época
daquele edifício apenas se revela nos tetos das salas superiores abobadadas e
com pinturas barrocas. Em redor do restante terreiro desenvolvem-se, implantados,
outros edifícios da época com uma forte e determinante presença urbana. As suas
fachadas brancas, com janelas emolduradas a granito da região, sobressaem ao
sol cativando o nosso olhar sempre que por ali passamos.
É de lamentar que outros espaços daquela Vila não se
encontrem também totalmente recuperados. As fachadas do largo do Tabolado
mereciam igualmente um tratamento especial. É pena que este centro tenha sido
desfigurado ao longo do século anterior.
Outros locais e imóveis desta vila
poderiam também ser recuperados como as Fontainhas e ruelas contíguas.
E é bom lembrar outros monumentos
importantes do concelho, como a condenada antiga Igreja dos Arcozelos e o
Magnifico Convento de S. Francisco que aguardam, há largos anos, a palavra “BASTA”!...
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