sábado, 25 de fevereiro de 2012

Boletins Antigos - nº 2 - II PASSEIO PELA NATUREZA E APRESENTAÇÃO DO ROTEIRO

(Julho de 1999)


II PASSEIO PELA NATUREZA
E
APRESENTAÇÃO DO ROTEIRO  

No passado dia 3 de Julho [1999] realizou-se o segundo passeio pedonal levado a cabo pela ARTT.O percurso com cerca de 4 km permitiu a todos quantos nele participaram um contacto directo com a fauna, flora e ainda com os mais diversos monumentos da nossa freguesia.
Passeio saudável e instrutivo. Dos muitos participantes, vindos dos mais diversos pontos do país, incluíam-se pessoas conhecedoras da história dos lugares, um biólogo, um antropólogo... que iam fazendo relatos e dando explicações dos lugares, dos monumen­tos e do meio natural.
Este passeio teve início cerca das nove da manhã começando por se visitar os lugares onde existiram os povoados mais antigos — vestígios romanos no Vale de Sendim, lagares e sepulturas cavadas na rocha em Vale de Vila. Subimos depois o bonito e antigo, mas ainda bem conservado, troço de Estrada Romana, de onde se seguiu para o ex-libris da nossa terra: a Igreja Matriz, que apesar de já manifestar uma certa degradação ainda é o mais belo e imponente monumento de Sendim. Outro dos pontos de grande interesse foi, sem dúvida, o centro da antiga Vila de Sendim, onde nos deparámos com um dos poucos símbolos da localidade — o Pelourinho. Visitou-se também uma das quintas com mais interesse a nível paisagístico — a Quinta do Bom Jardim — onde se fez uma pausa para algumas explicações e também para beber um pouco de água fresca, pois o calor já apertava.
No fim do passeio realizou-se um lanche-convívio com vários petiscos preparados especialmente para a ocasião no antigo forno comunitá, bem como outros produtos da região onde não faltou a fruta e o bom vinho de Sendim.
Ao passeio e ao lanche seguiu-se a apresentação do Roteiro turístico de Sendim — SENDIM Caminhos Históri­cos — da autoria e responsabilidade de Fernando Carlos Teixeira e com o patrocínio da ARTT. Estiveram presen­tes, para além de alguns sócios e dos participantes no percurso pedonal, representantes das autarquias e de alguns jornais locais. Mais que um simples Roteiro é uma obra com conteúdo e precisão, alusões históri­cas e contextualização, é sobretudo um registo indispensável e obrigatório que serve de base a qualquer trabalho que se queira fazer doravante, académico ou não, sobre este lugar e região. No dizer do próprio autor na Nota de Abertura, "esta pequena obra é um convite à visita da antiga Vila de Sendim (...) Nela se descobrem as origens pré-históricas, monumentos populares e eruditos, gentes e costumes peculiares, imagens de rostos, paisagens de enchera alma. Tudo quanto deve ser vivido no final de uma era e início de outra. Para que a visão e o conhecimento que temos do nosso país seja cada vez mais profunda e real."

Por Hélder Silva
Em Julho de 1999






terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Boletins Antigos - nº 2 - 1º Percurso Pedestre ARTT

(Julho de 1999)

1º Percurso Pedestre ARTT






Como havia sido publicitado, realizou-se no passado dia 3 de Abril [1999] o 1º Percurso Pedestre, organizado pelos Amigos da Região Tedo Távora.
Partimos de autocarro com destino a Paredes da Beira. Na viagem houve a oportunidade para observar Sendim e a sua serra, que constitui uma paisagem muito bonita e ainda ver o Dólmen de Paredes da Beira.
Chegados a Paredes da Beira "pu­semos pernas ao caminho" atraves­sando a aldeia e depois descendo a encosta em direcção ao rio Távora.
O guia da caminhada, o Sr. Anto­ninho Tojal, um jovem de 71 anos, não só indicava o caminho, como à medida que se ia caminhando, falava sobre histórias e acontecimentos sucedidos por aqueles lugares. A meio da en­costa até citou uma pequena quadra, que segundo o Sr.Tojal, um dia leu e recita quando anda pelos campos: "Oh! pedras dai-me ternura; Oh! árvores agasalhai-me; Oh! fontes dai-me frescura; Leves aragens levai-me!"
Por volta das 11.30h chegamos a um lugar onde foram descobertas por arqueólogos, pinturas rupestres num grande rochedo e que segundo os especialistas datam de 4000 A.C. Vistas as pinturas rumamos em direcção à Quinta do Vale da Mãe. Ali abundam sobreiros e numa pausa para recuperação de forças e reagru­pamento, houve a oportunidade para ficarmos a saber algumas curiosida­des, como por exemplo: "naquele lugar em tempos produzia-se 4000 arrobas de cortiça, a qual era transportada à cabeça por mulheres, até ao alto de Cabriz; que um sobreiro vive cerca de 300 a 400 anos; que a cortiça é extraída do sobreiro de 9 em 9 anos; que cada cm3 de cortiça tem cerca de 300 células hermeticamente fechadas entre si".
Enriquecida a nossa cultura geral e retemperadas as forças, continuamos a caminhada. O rio já se lá ao fundo, o terreno torna-se mais inclinado e acidentado, a paisagem é magnífica!
Chegados ao rio, são 12.30h e depois da travessia, houve novamente uma pausa que o Sr.Tojal aproveitou para dizer e citamos: "neste lugar do rio, existe ali o poço da varrela, onde antigamente se lavavam os colchões das camas uma vez por ano, aquando da muda da palha e ali o poço dos cesteiros, onde em tempos os artesãos colocavam a madeira a demolhar". Seguiu-se uma interven­ção de um biólogo que acompanhava o grupo, sobre a fauna e a flora daquele local. Referiu que em termos de flora, o que ali existiu inicialmente foi um bosque mediterrâneo, constituído por sobreiros e azinheiras, dos quais ainda restam sobreiros. Contudo esse bosque foi alterado no Sec.XVll, XVIII, com a introdução do pinheiro. Em termos de fauna, houve em tempos veados e lobos, no rio além do barbo e da truta vivem ainda em alguns locais junto das suas margens, lontras. Curiosamente na altura que se realizou esta pausa, houve a oportunidade de observar um casal de abutres brancos, também conhecidos por abutres do Egipto, que residem nos rochedos altos junto do rio.
O Sr.Tojal disse que se trata de um casal de aves ali introduzidas por uma equipa de biólogos, que estão a estudar a sua adaptação e desenvolvimento no local, integrado num projecto de povoamento de algumas espécies, outrora existentes no Vale do Douro.
Terminada mais uma sessão de esclarecimento e porque a barriga começava a dar horas, iniciou-se a etapa final - a subida do rio até Cabriz, onde o autocarro esperava para nos trazer de volta a Sendim.


Por José João Patrício
(Julho de 1999)





sábado, 18 de fevereiro de 2012

Boletins Antigos - nº 2 - Que é feito de nós

(Julho de 1999)
Que é feito de nós
"Desloco-me a Sendim 6 a 7 vezes por ano" - Manuel Joaquim de Matos



O Sr. Manuel Joaquim Matos tem uma história comum à grande parte dos Sendinenses, muito cedo percebeu que o melhor seria abandonar a sua terra para noutro sítio organizar vida, constituir família e abrir os horizontes do seu futuro. Assim trocou o dia a dia da pacata Sendim pela agitada e cosmopolitana Lisboa.

Hoje em dia tem um estável emprego de bancário num dos bancos do Grupo Chamaplimaud, o Banco Totta & Açores. Pessoa respeitada e querida dos seus colegas, calcorreia os pisos e corredores do edifício da Miguel Bombarda e outros por essa Lisboa, na entrega de documentos tão importantes no dia a dia daquelas instituições. Trabalho que faz com reconhecida competência, mantendo um excelente ambiente com todos os quadros superiores e não superiores do Banco Pinto e Sotto Mayor, Banco Totta & Açores e Crédito Predial Português.

Sempre que pode desloca-se a Escurquela, a terra da sua esposa, onde tem uma casa. Aí recarrega baterias para de novo fazer frente à agitada vida citadina. O facto de já não ter família em Sendim, não o impede de aí regressar sempre que a Escurquela se desloca, assim sendo, não perde a oportunidade de se por ao corrente de tudo o que pela nossa terra se passa.

Quando em Lisboa, nos fins de semana gosta de se deslocar às feiras do Relógio e das Galinheiras, não desperdiçando a oportunidade de encontrar alguns dos nossos conterrâneos, com os quais da nossa terra sempre fala.

Ao Boletim dos Amigos da Região Tedo-Távora sempre diz - "Ponham lá umas notícias caseiras, que é isso que o pessoal que está longe gosta, saber notícias lá da terra". Desde o primeiro número do Boletim que se tornou um incondicional, desencadeando logo por sua conta uma campanha de angariação de sócios.
Pai de dois filhos, o Manuel Domingos e o Ricardo Miguel, aguarda os dias da reforma para quem sabe um dia voltar, talvez de vez ...


CARREIRA PROFISSIONAL
Fez a 4 classe em Junho de 1952.

A patir dessa altura começou a trabalhar nas vindimas, ganhar o 6° dia ao preço das mulheres. Manteve-se nos trabalhos agrícolas até aos 16 anos.

Após os 16 anos foi trabalhar para a Padaria, com o que viria a ser o seu padrinho de casamento, o Sr. Fernando Teixeira.

Em 28 de Setembro de 1968 foi para Lisboa como padeiro.

Em 2 de Julho de 1970 tirou a carta de ligeiros e pesados de passageiros.

Ingressou numa casa de brinquedos onde trabalhou 13 meses.

Trabalhou posteriormente durante algum tempo na distribuição de electrodomésticos.

A partir de 14 de Julho de 1973 iniciou-se como motorista da Administração da A.C, empresa que construiu o complexo turístico de Tróia.

Em 8 de Setembro de 1977 ingressou no Banco Totta e Açores onde tem passado por vários serviços.



Sr. Manuel Matos, como é que lhe surgiu a ideia de ir para Lisboa ?
Surgiu porque senti a necessidade de melhorar o meu nível de vida.
E a oportunidade de ser bancário?
A oportunidade de ser bancário surgiu um pouco devido à crise que a empresa em que trabalhava atra­vessou, após o 25 de Abril de 1974.
Imagina o que estaria a fazer hoje em dia se ainda estivesse em Sendim?
Penso que teria um táxi.
Recorda-se da sua infância em Paço? Como é que passava os seus dias?
Até aos 12 anos brincava com as ou­tras crianças que na altura eram muitas. Jogava à patalinha ao botão-fora, etc.
Imaginava algum dia que o seu futuro se iria construir longe da nossa terra?
Após os 20 anos, sim.
Nunca pensou emigrar?
Sim em Fevereiro de 1968 era para ter ido para a França, mas como depois em 28 de Setembro de 1968 acabei por vir para Lisboa ...

Como vê a sua situação relativa­mente aqueles que tiveram que emigrar, e que você tão bem conhece?

Penso que se não existisse emigra­ção a nossa aldeia não se teria desen­volvido, nem se teria melhorado a situação da nossa gente.

Como é preenchido o seu dia a dia?

Durante a semana é preenchido a trabalhar. Aos domingos gosto de jogar um bocadinho de dominó. À noite gosto de ver TV.

E os tempos livres e fins de semana?

Gosto de passear fora da cidade e no verão ir para a praia.

Com que frequência se desloca a Sendim ?

Desloco-me a Sendim 6 a 7 vezes por ano.

Quando regressa que lugares gosta de visitar?

Gosto de passar pelo cafés para falar com os conhecidos e amigos. Gosto de ir à missa a Sendim nos domingos.

E as principais lembranças que lhe ocorrem ?

Os jogos de futebol, futebol do bom. Os bailes, os jogos do pino e também as jogatanas de cartas.

O seu irmão era uma das pessoas mais populares e características de Sendim. Como recorda essa sua faceta?

Com alguma desilusão, dado ter morrido como morreu. E após a morte dele ter ficado com pouca família.

Que mensagem deixa a todos os Sendinenses ?

Não se esqueçam da nossa terra.
Entrevistado por Paulo Monteiro
Em Julho de 1999