terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Boletins Antigos - nº 2 - 1º Percurso Pedestre ARTT

(Julho de 1999)

1º Percurso Pedestre ARTT






Como havia sido publicitado, realizou-se no passado dia 3 de Abril [1999] o 1º Percurso Pedestre, organizado pelos Amigos da Região Tedo Távora.
Partimos de autocarro com destino a Paredes da Beira. Na viagem houve a oportunidade para observar Sendim e a sua serra, que constitui uma paisagem muito bonita e ainda ver o Dólmen de Paredes da Beira.
Chegados a Paredes da Beira "pu­semos pernas ao caminho" atraves­sando a aldeia e depois descendo a encosta em direcção ao rio Távora.
O guia da caminhada, o Sr. Anto­ninho Tojal, um jovem de 71 anos, não só indicava o caminho, como à medida que se ia caminhando, falava sobre histórias e acontecimentos sucedidos por aqueles lugares. A meio da en­costa até citou uma pequena quadra, que segundo o Sr.Tojal, um dia leu e recita quando anda pelos campos: "Oh! pedras dai-me ternura; Oh! árvores agasalhai-me; Oh! fontes dai-me frescura; Leves aragens levai-me!"
Por volta das 11.30h chegamos a um lugar onde foram descobertas por arqueólogos, pinturas rupestres num grande rochedo e que segundo os especialistas datam de 4000 A.C. Vistas as pinturas rumamos em direcção à Quinta do Vale da Mãe. Ali abundam sobreiros e numa pausa para recuperação de forças e reagru­pamento, houve a oportunidade para ficarmos a saber algumas curiosida­des, como por exemplo: "naquele lugar em tempos produzia-se 4000 arrobas de cortiça, a qual era transportada à cabeça por mulheres, até ao alto de Cabriz; que um sobreiro vive cerca de 300 a 400 anos; que a cortiça é extraída do sobreiro de 9 em 9 anos; que cada cm3 de cortiça tem cerca de 300 células hermeticamente fechadas entre si".
Enriquecida a nossa cultura geral e retemperadas as forças, continuamos a caminhada. O rio já se lá ao fundo, o terreno torna-se mais inclinado e acidentado, a paisagem é magnífica!
Chegados ao rio, são 12.30h e depois da travessia, houve novamente uma pausa que o Sr.Tojal aproveitou para dizer e citamos: "neste lugar do rio, existe ali o poço da varrela, onde antigamente se lavavam os colchões das camas uma vez por ano, aquando da muda da palha e ali o poço dos cesteiros, onde em tempos os artesãos colocavam a madeira a demolhar". Seguiu-se uma interven­ção de um biólogo que acompanhava o grupo, sobre a fauna e a flora daquele local. Referiu que em termos de flora, o que ali existiu inicialmente foi um bosque mediterrâneo, constituído por sobreiros e azinheiras, dos quais ainda restam sobreiros. Contudo esse bosque foi alterado no Sec.XVll, XVIII, com a introdução do pinheiro. Em termos de fauna, houve em tempos veados e lobos, no rio além do barbo e da truta vivem ainda em alguns locais junto das suas margens, lontras. Curiosamente na altura que se realizou esta pausa, houve a oportunidade de observar um casal de abutres brancos, também conhecidos por abutres do Egipto, que residem nos rochedos altos junto do rio.
O Sr.Tojal disse que se trata de um casal de aves ali introduzidas por uma equipa de biólogos, que estão a estudar a sua adaptação e desenvolvimento no local, integrado num projecto de povoamento de algumas espécies, outrora existentes no Vale do Douro.
Terminada mais uma sessão de esclarecimento e porque a barriga começava a dar horas, iniciou-se a etapa final - a subida do rio até Cabriz, onde o autocarro esperava para nos trazer de volta a Sendim.


Por José João Patrício
(Julho de 1999)





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