quarta-feira, 30 de abril de 2014

BOLETIM Nº 6 - Boletins antigos - Março de 2001

BOLETIM Nº 6
(Boletins Antigos)
Março de 2001
EDITORIAL


domingo, 27 de abril de 2014

ESCREVA NO BOLETIM A.R.T.T.


carlitoscravo@gmail.com

Intenções de um Projeto para FUTURA SEDE DA A.R.T.T. - boletins antigos - nº 5 - ano 2000

Intenções de um Projeto para FUTURA SEDE DA A.R.T.T. - boletins antigos - nº 5 - Julho de 2000


  Um dos objetivos dera associação ter uma sede para apoio às atividades desenvolvidas na região, só com o apoio da Câmara Municipal, Junta de Freguesia e esforço dos sócios, o ato foi conseguido.
   A ARTT tem desenvolvido atividades de grande divulgação da região, tendo posto em prática três percursos por ano. Esta estratégia tem como ideia de fundo a humanização temporária do nosso espaço rural. O futuro edifício vem ao encontro desta necessidade de humanização. Quanto a nós, é a presença de pessoas que anima a sociedade local tal como a sua economia. As pessoas que nos visitam, são os grandes apreciadores do nosso património e da nossa paisagem. É por isso necessário ter uma estrutura de apoio digna a esta realidade. Por outro lado o nosso edifício será também um espaço aberto à comunidade local, ponto de contacto de gentes de fora e da região, local de divulgação da nossa cultura local. Por tudo isto foi importante adquirir uma casa de características regionais, com uma localização central num núcleo histórico importante da região.
   Escolhemos uma casa integrada no núcleo da antiga Vila de Sendim. Esta casa é construção dos anoa quarenta cuja sua tipologia se caracteriza como casa rural organizada em volta de um átrio. O volume habitacional contém dois pisos, em baixo a loja e adega, e em cima a habitação, com o seu interior organizado por dois grandes corredores definindo um T. Um, dando acesso cozinha e sala e outro dando acesso aos quartos. Os restantes espaços são constituídos por um coberto que guarda um tosco cortelho e um típico forno de lenha. O espaço de união destes volumes construídos é leito por urna pequena cavalariça cuja cobertura serve de terraço com acesso do átrio por escada de granito igual ao aplicado na construção. Esta casa, define um pequeno quarteirão, tendo várias aberturas para as ruas que a ladeiam e a sua força e presença no lugar é expressa pelos grandes blocos de granito nela aplicada, quase como uma fortaleza...
A sua localização está perto da Igreja Matriz de Sendim, dos Túmulos Antropomórficos, de casas Rústicas, de um antigo Solar a confina a norte com o antigo traçado da estrada Romana. Por outro lado, tem fácil acesso aos caminhos rústicos e medievais que caracterizam a zona. Está pedo da Serra, do Vale de Vila e Vale de Sendim, onde se encontram vestígios Romanos, quanto a nós de grande interesse.
Desta forma, consideramos que a referida casa se situa num ponto estratégico fundamental para dinamizar as nossas atividades culturais, com vista à defesa do património ambiental e histórico-cultural da região.

A pretensão de adquirir este imóvel vem já ao encontro do espírito da associação, uma vez que a sua recuperação valoriza o conjunto arquitetónico existente. Pretendemos manter todas as caraterísticas arquitetónicas e construtivas e reabilitar o edifício para uma nova função.

   O programa inclui a instalação de um Museu Arqueológico e etnográfico e de arte contemporânea, loja de artesanato e produtos locais, pequena biblioteca, cafetaria, espaço de reuniões, secretaria, espaço polivalente (para conferências, ações de formação, ateliers, exposições e convívio) e alojamento para sócios e pessoas que participem nas nossas atividades.
Julho de 2000
Associação da Região Tedo Távora

terça-feira, 22 de abril de 2014

NÓS, OS PIVETES DOS ANOS QUARENTA - Boletins Antigos - Nº 5 - ano 2000

NÓS, OS PIVETES DOS ANOS QUARENTA
por Ilídio Coelho


ET: PLURIBUS UNUM. Um por todos e todos por um.
Era esse o lema dos Fedelhos de palmo e meio do meu tempo, cuja sigla ostentávamos como ceptro na defesa de classe.
Era, unidos fraternalmente que nós; os meninos da rua, (passe o termo) praticávamos algumas travessuras; ainda que de pouca monta, por vezes nos causariam grandes dissabores, não fora a relação amistosa existente no seio do grupo dos pequenos “mosqueteiros” que respeitava religiosa­mente o pacto de sigilo, porque na verdade todos comungávamos dos mesmos ideais. Não pensem porém, que éramos um grupo organizado de rapa­zinhos malfeitores. Não… não éramos: nem sequer mal educados! Éramos sim; uns Pivetes um pouco irreverentes; talvez pelo facto do estarmos ansiosos em adquirirmos o estatuto de adultos.
Era já o senti­mento de superio­ridade que prevalecia na nossa mente e comandava a vontade que nos incitava a enveredar pelo caminho aventureiro dos mais velhos e seguir-lhes as pegadas.
Começávamos então a frequentar ainda que timidamente alguns bailari­cos, sem no entanto despertarmos grande atenção nas pomposas sertanejas, que só tinham olhares meigos e gestos carinhosos para os farsolas que lhes faziam a corte. Nós éramos uns pequenos galarós de crista alta que não perdíamos o ensejo de tentar o momento azado para arrastar a asa às frangotas mais arteiras.
Mas não eram os bailes que mais nos seduzia.
O    futebol era sem dúvida a nossa paixão predilecta; e a concepção deu-se a partir dos tempos da escola, quando nos recreios por tudo e por nada aprontávamos desafios com os quais vibrávamos imenso; ou não fossem eles disputados renhidamente entre equipas de Paço e de Aldeia. Os jogos eram então realizados com bolas de trapos no macadame da estrada, normalmente de pé descalço, com os dedos esborrachados.


Formara-se o embrião o introduzira­-se no sangue da miudagem e lá se desenvolveu; a partir daí, a bola era o pão nosso de cada dia. Também porque nos anos quarenta fora a revelação do futebol cm Aldeia de Sendim, e nós, a raia miúda, tínhamos grande admiração pelos jogadores da época, que penso serem os pioneiros, bem como os fundadores do Futebol Clube Sendi­nense.
Uma gama de futebolistas habilidosos e muito raçudos Desse tempo eu recordo os nomes do Horácio, Totó, Amílcar, Abílio, Hélder, Fernando, Raúl, Teófilo, Venceslau, João da Isaltina, Jaime, Antero, Manuel da Mabília, Aires, Forneiro e ou­tros que já se me arredaram da memória. Uma boa parte deles foram óptimos joga­dores e con­tribuíram com o seu esforço pa­ra enaltecer o nome do clube e da Terra. Quando tinham algum jogo con­siderado mais difícil, recorriam a alguns reforços extra-muros; como era o caso do guarda-redes Veiga, de Leomil e do defesa central Zé Macaco, de Moimenta da Beira. Após a Selecção “Maravilha”, arru­mar as botas, uma nova vaga de bons jogadores surgia na ribalta do F.C.S. Eramos nós; os Pivetes, que já nos anos cinquenta, dávamos cartas a jogar futebol. Tínha­mos então um lote de grandes futebo­listas: e cito como exemplo o Lelo, o Dr. Rogério, o Dr. Afonso, o João da Alegria, o Cautela, o Zé Grilo, o António Sequeira, o Zezinho de Isaltina, o Nar­ciso, eu, e outros mais que não cons­tam desta lista por manifesta falta de lembrança.
Confesso, que é com grande emoção que de vez em quando, através de uma obscura fresta da memória já dila­cerada pelo tempo, olho para trás e me curvo perante tais recordações ao descortinar nelas momentos inoIvidá­veis dos anos áureos da minha juventude.
E porque o coração me pede elevo a minha voz e proclamo bem alto… Bendita sejas tu ó minha Terra!... E Bem aventurados sejam os teus filhos para sempre.
Julho de 2000


segunda-feira, 21 de abril de 2014

PROFESSOR - Boletins antigos - nº 5 - ano 2000

O PROFESSOR
por Isilda Teixeira


Manhã cedo, caminha o Professor
Para cumprir a sua obrigação
Vai contente, pois leva por missão
Formar, educar e a seu favor

Tem naturalmente a pouca idade
Dos alunos, ávidas de saber
Atentos a quanto possam aprender
E há sempre, certa curiosidade!

Para que neles se possam despertar
O valor que só o estudo pode dar
É preciso ser mestre de eleição

Tenhamos fé num bom educador
Raízes dum futuro promissor
Se souberem semear, bons frutos colherão.
Lamego 25/07/00

Isilda Teixeira

QUANDO FALECEU O PÁROCO DE SENDIM - Bol. Antigos - nº 5 - ano 2000

Quando faleceu o Pároco da Freguesia de Sendim
por Maria Laura Sequeira


     No dia 4 de Julho (ano 2000) às 23 horas fa­leceu no Hospital de Lamego o Re­verendo Padre Dinis Soeiro Coelho.
     Nascido na Granjinha a 10 de Fevereiro de 1924, era o mais velho dos dez irmãos ainda vivos, filhos de Belarmino Soeiro Coelho e de Teresa de Jesus Soeiro. Este casal humilde, mas muito católico quis que o seu primeiro filho se dedicasse ao serviço de Deus e do próximo. Para isso, de­pois de ter frequentado e concluído o ensino primário na escola da Granjinha, foi frequentar o seminário de Resende e depois o de Lamego. Foi ordenado sacerdote na Sé de Lamego no dia 29 de Junho de 1947 e celebrou a Missa Nova na sua terra natal no dia 12 de Julho do mesmo ano.
     Começou o seu ministério sacerdotal, com o coadjutor, em S. Marti­nho de Paus, sendo depois colocado na paróquia de Sendim, onde celebrou pela primeira vez no dia 25 de Dezembro de 1948. Durante 52 anos serviu com grandeza de coração, es­pírito de sacrifício, qualidades de renúncia e dedicação, os seus paroquianos de Sendim, Guedieiros e Cabriz.
 Conhecedor e cumpridor dos seus deveres, era urna pessoa muito culta, de grande bondade e dignidade humana. Viveu uma vida simples, mo­desta e humilde sem nunca ambi­cionar riquezas nem bens materiais, mas cheia de bens espirituais. Seguin­do os ensinamentos deixados por Jesus Cristo no Evangelho, a sua vida é uma referência para todos nós.
     Deus quis levá-lo para junto de Si onde goza já de Eterna Glória, Con­fortemos a família que chora com saudade e rezemos por ele mani­festando assim o nosso reconhecimento e amizade.

Julho de 2000

quarta-feira, 16 de abril de 2014

NO ENCALÇO DE UM FIM DE SEMANA DIFERENTE, COM MAIS ADRENALINA - Boletins antigos - Nº 5 - ano 2000

No encalço de um fim de semana diferente, com mais adrenalina
por Mª Cristina Araújo

      Não foi complicado chegar a Sendim.
Reunidos junto ao café Teixeira, em Lugar de Paço, preparamo-nos para iniciar o primeiro percurso prometido. Era grande a expectativa mas a chuva, quo não parava de cair, preocupava-nos.
      Iniciamos o percurso pedestre pela Rua dos Tornos de Arcos. Mais acima. na rua do Areal, pudemos observar, rasgada numa parede, uma janela de estiIo Manuelino. Um exemplar único.
     A subida era cada vez mais íngreme e a lama já fazia parte do nosso percurso. Apesar de não estarmos habituados a caminhos enlameados, na cidade tudo parece artificial, agradou-nos sobretudo o conjunto de odores que pairavam no ar bem como o postal natural que nos circundava.
       Na Fonte do Polameiro, só depois de provarmos a água que jorrava, soubemos que, segundo a tradição, quem dela bebesse acabaria por casar na terra. Foste nosso amigo, Teixeira.
Este passeio levou-nos por lugares encantados por onde a civilização e o progresso parecem tardar em chegar. Um refúgio ideal e indispensável para qualquer um de nós.

Na Quinta do Bom Jardim, desfru­tamos de uma vista magnífica para o Vale do Távora e Barragem do Vilar. Foi o local seleccionado para a fotografia de grupo. Apenas o aspecto degradante e abandonado das construções que aí ainda existem, quebra parte do encanto deste local.
Percorrida toda a Serra, alcançamos o núcleo histórico de Sendim. A sua Igreja Matriz (Stª Mª de Sendim) rompe na paisagem numa arquitectura simples e austera. Junto ao adro pudemos observar um conjunto de túmulos antropomórficos, característicos da Idade Média. Foi bastante interessante a visita ao interior da Igreja. Vários aspectos decorativos e arquitectónicos, ainda nos contam a sua história ao longo do tempo. Suscitou-me particular interesse a cruz que encima esta Igreja bem como a sua pequena torre sineira.
Por ruas estreitas, percorremos mais alguns metros até ao Solar onde dizem ter habitado os Távoras (distinta família Transmontana), aquando da sua fuga no reinado de D. José. Descansamos um pouco no respectivo pátio. É curioso a referência do brasão da família na frontaria do solar e que teria sido encoberto para que não os conseguissem identificar.

Pela Via romana, continuamos o nosso percurso. Algumas das suas pedras parecem não ter sofrido a erosão do tempo. Agora, sempre a descer, parecia mais simples. A certa altura o grupo dividiu-se, iniciando percursos distintos. Nós, os mais cansados, preferimos continuar a nossa caminhada pelo mais curto. Logo de seguida, porque o terreno se tornou um pouco mais acidentado, assustamo-nos com a queda aparatosa de uma colega. Mas tudo não passou de um pequeno susto.
Só voltamos a parar junto de um conjunto de túmulos e lagar romanos nos Vales de Vila e de Sendim.
Chegamos a Lugar de Paço ao cair da tarde. Era chegada a hora de um bom duche e de nos preparamos para o manjar prometido...
No Restaurante, a Tarraxa, agruparam-nos (45 pessoas) à volta de mesas improvisadas de tábuas corridas. Ao centro surge uma tarraxa de aspecto corroído. Os últimos a chegar, ganharam lugar de destaque em torno desta tarraxa. A pouco e pouco chegava a comidinha. Canja, Milhos de carne, carne de vaca grelhada com arroz de feijão e, para a sobremesa, arroz doce que, só pelo seu as­pecto, nos fazia crescer água na boca. No fim foi sorteado um presunto. Foi pena não ter chegado a Coimbra.

A malta assim arruma­da, lá foi depois para a aldeia de Cabriz, de barri­ga cheia.
Numa vivenda recuperada, acabamos a noite. Foi divertido. Ainda conseguimos dançar e cantar até às tantas… mesmo assim, recolhemos cedo. O dia seguinte iria ser tão cheio de aventura e adrenalina, quanto o primeiro.
No Domingo, bastante empolgados, iniciamos o dia com um percurso de car­ro até à Srª do Bom Despacho. Esta capela data do séc. XVIII e regista por­menores decorativos bastante interes­santes.
Descemos a pé até às margens do rio Távora, tendo permanecido durante algum tempo num lugar aprazível de nome o Contador. Dois Jovens de Rio Maior já tinham preparado todo o material para o Rappel. Nem todos tiveram a coragem necessária para descer a encosta em Rappel. Contudo, foi emocionante observar quem o fez.
Mais tarde faziam-se os preparativos necessários para o piquenique. A comida estava toda mui­to boa. As coste­letas grelhadas ao sabor do ven­to e na brasa improvisada, fez-­nos lembrar os tempos mais primitivos.
   A chuva vol­tava a cair mas com menos in­tensidade.
   Satisfeitos e de estômago cheio, após uma breve explicação iniciamos o restante percurso. Agora pela margem esquerda do rio, em fila, por caminhos estreitos, agrestes o por desbravar, foi possível sentir aquela adrenalina tão desejada e que muitas vezes nos fez suster a respiração.
   O percurso não foi simples. Contor­namos obstáculos criados pela própria natureza, atravessamos locais húmidos e escorregadios, precipícios que impunham um certo respeito e saltamos por rochedos. Todos chegaram ilesos à foz da Ribeira do Regato, apesar de alguns percalços em locais, cuja passagem, exigia mais coragem. No geral, foi o percurso que mais gostei. Deixo aqui um agradecimento ao Sr. Tojal que, durante o mesmo, nos revelou alguns dos segredos (lendas e crenças) desta zona. Surpreendeu-nos a sua vitalidade e a forma como transpôs todos estes obstáculos naturais com maior destreza que nós.
   Depressa chegamos a um local chamado Srª da Boa Morte. Ergue-se aqui um conjunto rural de aglomerados com características castrejas. Estas casas, construídas em alvenaria tosca com telha romana típica da região, servem actualmente para armazenar lenha, utensílios agrícolas, etc... Predomina neste local o Castanheiro.

   Cansados e desejosos de mais um duche quente, iniciamos a viagem para Tabuaço. Ainda antes de chegar ao destino paramos por alguns instantes num local muito bonito. Na Talisga ou Fradinho, após percorrida uma escadaria de muitos degraus, pudemos vislumbrar, deste miradouro, a paisagem avassa­ladora que se desenrolava aos nossos olhos. Até à linha do horizonte tudo parecia criado a partir de um conto de fadas. Esta paisagem bucólica, absorveu-nos completamente.
O Jantar foi mesmo por Tabuaço. Já nada nos conseguia mover. Precisá­vamos de recuperar o fôlego.
O convívio foi parte integrante desta viagem.
Regenerados, na manhã seguinte regressamos a Coimbra.
Na escola, durante a semana seguin­te, não falámos de outra coisa. Todos quiseram ver as nossas fotografias. Foi um fim-de-semana que, tão depressa, ninguém o esquecerá.
E Hoje, é fazer planos para regressar uma e outra vez.
Obrigado a todos quantos tornaram possível este fim-de-semana.

Mª Cristina Araújo

HOMENAGEM À DONA ARMINDA - Boletins antigos - Nº 5 - ano 2000

Homenagem à Dona Arminda




Homenagem à Dona Arminda
por: Paulo Monteiro

Faleceu no dia 1 de Março (de 2000) a antiga professora do Ensino Primário Dona Arminda da Conceição Carvalho, conhe­cida por toda a gente da nossa terra como a Dona Arminda. Na última homenagem que lhe foi prestada, durante a missa de corpo presente, a sua colega e amiga Dona Laura Sequeira proferiu as seguintes palavras:

“Educadora sublime, es­posa exemplar, mãe extremo­sa, colega prestável, amiga sincera era assim a Senhora Dona Arminda.
Quarenta e dois anos ao serviço da educação. Desde a Escola de Pinheiros até à Escola de Sendim, passando pela Granjinha e Guedieiros, quantos dos que aqui estão presentes e que passaram pelas suas mãos não recordam aquela Senhora que tão bem os preparou para a vida. Não falo só nos conhecimentos que lhe era imposto ministrar aos seus alunos, mas também na formação que ao mesmo tempo lhes incutia, para que, a exemplo dela, fossem pes­soas de bem, bem formadas que pensassem mais nos outros do que em si próprios.
Vemos esta educação nos seus filhos, que ela tanto adorava e tanto admirava. Ninguém tinha uns filhos como ela e tinha razão. Uns filhos que tanto lhe quiseram, que a adoravam e que ela educou para em primeiro lugar respeitarem os outros e atenderem às necessidades do próximo e só depois se lem­brarem de si mesmos.
Sempre amiga, sempre bem-disposta, contagiava-nos com a sua boa disposição. Com o seu humor espontâneo, leva­va-nos a colaborar nas suas graças. Nunca da sua boca saiu um maldizer, pois para ela ninguém tinha defeitos, só virtudes.
Católica praticante, recor­do-a aqui nesta capela, en­quanto teve saúde para aqui vir, no seu lugar no segundo banco do lado esquerdo, a assistir à missa sempre com o terço na mão como prova da sua devoção a Nossa Senhora. Era presidente do Movimento do Apostolado da Oração.
Hoje não é só a família que fica mais pobre, mas também todos os que aqui estão, pois perderam uma sincera amiga. Fiquemos com o seu exemplo de vida para podermos ultrapassar o desgosto desta perda.”

Este improviso de linguagem simples e acessível, mas cheia de sentimentos, tocou o coração dos presentes que, emocio­nados, não puderam conter as lágrimas que lhes caiam pelos rostos, testemunhando o que lhes ia na alma.


A A. R. T. T. junta-se à homenagem prestada a quem tanto fez pelos filhos da nossa terra.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

BOLETIM Nº 5 - Boletins Antigos

BOLETIM Nº 5
Julho de 2000

                  EDITORIAL
Nesta quinta edição do Boletim dos Amigos da Região Tedo Távora procuramos manter a mesma linha que inicialmente definiu e caracterizou este nosso periódico local. Pro­curamos não fugir muito aos objectivos estipulados que são também os objectivos da Associação. Divulgar o património arquitectónico, cultu­ral e ambiental, relembrando pessoas que para a nossa terra tiveram importância no domínio social, político ou em qualquer outro campo.

Mais uma vez a Comissão Instaladora da ARTT agradece a todos os colaboradores que contribuíram com artigos para esta publicação. Aproveitando ainda para solicitar a todos os que queiram participar com qualquer tipo de opinião ou artigo, no sentido de engran­decer a nossa publicação.
A comissão instaladora


sábado, 12 de abril de 2014

"O FUTURO DO NOSSO PASSADO" - II - Bol. antigos - nº 4 - ano 2000

RECOLHAS DO PATRIMÓNIO ORAL 
E CULTURA POPULAR
por Carlos Cravo



Alguns procedimentos e considerações acerca da realização de Recolhas

     Aquilo que se procura, na realidade, já não existe! Muitos aspectos dessa cultura popular já se perderam irremediavelmente. O que existe, são recordações, alusões vagas, lembranças na memória das pessoas mais idosas, obviamente. Dessa maneira não adianta tentar procurar e abarcar todos os aspectos relacionados com este saber popular, sobretudo os que se referem à linguagem oral. Alguns deles surgirão natural e voluntariamente sem esforços nem pressões, são esses que nos interessam, é preciso segurá-los e registá-los. O importante é estar atento, ser paciente e contactar frequentemente, da forma mais informal e espontânea possível, com pessoas especificamente vocacionadas para transmitir saber popular, alegando a todo o momento as vantagens do “seu tempo” e as coisas do ”antigamente”.
      As festas do ano - Natal, Santos, Espírito Santo, Carnaval, Quaresma. Páscoa, Santos Populares, etc, - são alturas propícias e privilegiadas para proceder ao seu registo, quando nos surgem de forma espontânea e a propósito de… como se fazia, o que se fazia e porque se fazia; o que se dizia, o que se comia ou não e por que razão.
As Recolhas podem ser muitas e diversificadas. Algumas são apenas uma transcrição pura de expressões, orações, adágios, rezas, versos, canções... - linguagem oral própria - onde se devem respeitar, com utilização de aspas, as expressões características, constituindo regionalismo local, com exposição posterior do significado dessa palavra ou expressão, ou a sua forma ortográfica correcta. Outro tipo de recolhas constitui uma exposição, explicação ou apresentação de usos, costumes, atitudes, gestos, superstições, etc; em que se deve ter um máximo cuidado em transmitir explicitamente e de forma compreensível a recolha em causa, utilizando, sempre que necessário e de modo preferível, as palavras e expressões da pessoa que serviu de fonte para a recolha (com utilização de aspas).
Junto de cada recolha dever-se-á colocar a data, o local (caso sejam recolhas relativas a uma região) e a fonte (nome e idade da pessoa que forneceu a recolha).

Exemplos de Recolhas:

• CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES,

“Cuspir no lume é cuspir na face de Deus.”
1990, S. Jorge - Açores, Srª Nazaré - 35 anos
“O homem que plantar uma nogueira, morrerá quando ela for da grossura dele."
Recolha de José Leite de Vasconcelos
“Facas cruzadas à mesa dá azar”
Sendim, Sr. José - 56 anos

• PROVÉRBIOS - ditados populares . adágios,
“Páscoas Chuvosas, eiras «centiosas»*”
Abril de 98, Sendim, Srª Adelaide - 80 anos

    “Não te rias de quem sofre,
    É coisa que Deus ordena.
  Pode a roda desandar
 E penares da mesma pena.”
Srª Esmeraldina, Sendim - 1992
*centiosas - Eiras cheias, muito centeio, ano fértil



CURAS E REZAS,

Deve indicar-se sempre a razão da cura ou da reza.

Quando alguém, sem querer, espeta em qualquer parte do corpo um prego ou outro qualquer objecto de metal, como agulha, etc, deve ir espetá-lo numa cebola, para não fazer ferida.
Diz-se na ocasião em que se espeta a cebola:
      “Espeto, espetão,
Agulha, agulhão,
Maldito serás,
F´rida não farás.”
Recolha de José Leite de Vasconcelos

• ORAÇÕES E PRECES,
Quando necessário deve indicar-se a razão ou a altura em que se faz a oração.
“Padre Nosso pequenino
Quando Deus em Menino
E andava pelo mar
Três Marias vira estar
E Jesus no seu altar.
Santa Maria Madalena
Com um paninho de «Ior»
«P’r’alimpar» Nosso Senhor
«Tat, tat» Madalena
Não me queiras «alimpar»
Que estas são as cinco chagas
Que eu tenho p’ra passar
Pelo pequeno e pelo grande.
Quem esta oração disser
Sete vezes na semana
E outras tantas no «carná»
Terá as portas do Céu abertas
E as do Inferno nunca as verá.”
Sendim, Maria Atice (61 anos),Abril de 98

• QUADRAS POPULARES - versos,

“Agora cantam os grilos,
É sinal de tempo quente.
Adeus, amor de algum dia,
Já que não foste p’ra sempre.”



JOGOS POPULARES – divertimentos - adivi­nhas,
Consiste na descrição de jogos (designados por jogos tradicionais) ou de outra forma de divertimento ou ocupação de tempos livres, como adivinhas, por exemplo; não aquelas que vêm nas revistas e livros, mas as que pala sua linguagem e construção se nota serem de origem popular, que os mais velhos contavam aos mais novos. Por Ex:

“Qual é o animal que voa
Sem tripas nem coração
Que dá «luzença» aos mortos
E aos vivos consolação?”
       A abelha (cera e mel)

• LENDAS, NARRATlVAS E HISTÓRIAS DO LUGAR,
       É de todo o interesse que sejam histórias ou lendas relacionadas com lugares da região - por exemplo a Lenda da Moura Encantada, Princesa «Árdinga» - mas, não deixa de ter interesse a recolha de histórias encantadas, de magia, bruxas e duendes, que os avós contavam aos seus netos…

• CANÇÕES,

Não se pretende uma recolha puramente musi­cal, ao jeito de Giacometti ou Lopes Graça, mas sim a transcrição textual de canções populares, mas se for possível uma reconstituição aproximada da música em pauta, só enriqueceria a recolha. É interessante procurar canções que falem de lugares, pessoas ou acontecimentos do local a que se reterem as recolhas.

• USOS E COSTUMES,
É costume comer castanhas no 1º de Maio, para o burro não montar.
    Sendim, 01-05-98
(Este costume está relacionado com a festa do S. Torcato em Cabaços, que antigamente se festejava no primeiro de Maio. Toda a gente tinha burros e burras que levavam à festa; como o mês de Maio é o mês de acasalamento dos burros, havia a preocupação de, quem tinha burras, evitar tal situação... Mas que é que isso tem a ver com as castanhas?!)

• GASTRONOMIA - CULINÁRIA POPULAR,

Receitas antigas. aprendidas com os ascendentes, Muitas vezes relacionadas com alturas do ano, festas ou ocasiões especiais.

• TOPONÍMIAS,
“TOPONÍMlA - Estudo histórico ou linguístico sobre a origem dos nomes próprios de lugares; designação de lugares, pelos seus nomes.” - Dicionário ddb

•  HÁBITOS COSTUMES CONDICIONADOS PELAS FASES DA LUA,

•  LENGALENGAS E TRAVALÍNGUAS,
“Em cima da pipa está uma pita,
Pinga a pipa, pia a pita.”

•        MEDICINA POPULAR chás,
Para além da designação da cura a que os chás se referem seria conveniente fazer urna recolha ma­terial das plantas...



sábado, 5 de abril de 2014

OS INVERNOS DE HOJE E OS DE ANTIGAMENTE - Bol. 55

Os Invernos de Hoje e os de Antigamente

por Maria Lisete Soeiro Coelho Ferreira




Nos invernos de hoje, a comunicação social está sempre a informar o país das vagas de frio que estão para chegar, ou que está alerta laranja por causa das chuvas e tempestades, a avisar que se devem prevenir com agasalhos, bebidas quentes etc. Até parece que os portugueses de hoje não têm sangue quente nas guelras como tinham os nossos antepassados! Até porque os invernos de agora não têm nada a ver com os de antigamente, principalmente aqui na província, que se passavam semanas inteiras e até meses, que as pessoas que trabalhavam na lavoura agrícola não podiam ganhar um dia com tanta chuva, neve e gelo. 
(...)



(...)
Então o nevoeiro era muito frequente e duradouro em Sendim. Dizia o povo que ele nunca se ia embora sem fazer a novena, ficava cá sempre hospedado no mínimo 9 dias, o que muito preocupava as mulheres. Pois naquele tempo tinham muitos filhos, mas roupa para os mudar havia pouca! Por vezes era lavada à noite para vestirem de manhã. Mas no inverno era difícil, porque não secava e com o nevoeiro ainda era pior. 
(...)


(...)
 E a pequena lareira, onde por vezes nos aquecíamos pela frente e cheios de frios por trás! Para se fazerem aquelas pequenas fogueiritas ia-se roubar a lenha às escondidas, sempre com medo, porque se o dono chegasse e visse alguém nas suas matas, das duas uma, ou faziam levar a lenha a casa deles, ou faziam ir as pessoas ao Posto da Guarda, sendo obrigados a pagá-la, fosse lenha boa ou ruim, nem que fosse um molho de giestas ou um saco de pinhas! Toda a gente arranjava a lenha no verão para utilizar no inverno, porque naquele tempo ainda não existiam fogões a gás. Cozinhava-se ao lume, em potes de ferro com três patas. Comidinha que ficava muito mais gostosa e mais saudável!
(...)