terça-feira, 22 de abril de 2014

NÓS, OS PIVETES DOS ANOS QUARENTA - Boletins Antigos - Nº 5 - ano 2000

NÓS, OS PIVETES DOS ANOS QUARENTA
por Ilídio Coelho


ET: PLURIBUS UNUM. Um por todos e todos por um.
Era esse o lema dos Fedelhos de palmo e meio do meu tempo, cuja sigla ostentávamos como ceptro na defesa de classe.
Era, unidos fraternalmente que nós; os meninos da rua, (passe o termo) praticávamos algumas travessuras; ainda que de pouca monta, por vezes nos causariam grandes dissabores, não fora a relação amistosa existente no seio do grupo dos pequenos “mosqueteiros” que respeitava religiosa­mente o pacto de sigilo, porque na verdade todos comungávamos dos mesmos ideais. Não pensem porém, que éramos um grupo organizado de rapa­zinhos malfeitores. Não… não éramos: nem sequer mal educados! Éramos sim; uns Pivetes um pouco irreverentes; talvez pelo facto do estarmos ansiosos em adquirirmos o estatuto de adultos.
Era já o senti­mento de superio­ridade que prevalecia na nossa mente e comandava a vontade que nos incitava a enveredar pelo caminho aventureiro dos mais velhos e seguir-lhes as pegadas.
Começávamos então a frequentar ainda que timidamente alguns bailari­cos, sem no entanto despertarmos grande atenção nas pomposas sertanejas, que só tinham olhares meigos e gestos carinhosos para os farsolas que lhes faziam a corte. Nós éramos uns pequenos galarós de crista alta que não perdíamos o ensejo de tentar o momento azado para arrastar a asa às frangotas mais arteiras.
Mas não eram os bailes que mais nos seduzia.
O    futebol era sem dúvida a nossa paixão predilecta; e a concepção deu-se a partir dos tempos da escola, quando nos recreios por tudo e por nada aprontávamos desafios com os quais vibrávamos imenso; ou não fossem eles disputados renhidamente entre equipas de Paço e de Aldeia. Os jogos eram então realizados com bolas de trapos no macadame da estrada, normalmente de pé descalço, com os dedos esborrachados.


Formara-se o embrião o introduzira­-se no sangue da miudagem e lá se desenvolveu; a partir daí, a bola era o pão nosso de cada dia. Também porque nos anos quarenta fora a revelação do futebol cm Aldeia de Sendim, e nós, a raia miúda, tínhamos grande admiração pelos jogadores da época, que penso serem os pioneiros, bem como os fundadores do Futebol Clube Sendi­nense.
Uma gama de futebolistas habilidosos e muito raçudos Desse tempo eu recordo os nomes do Horácio, Totó, Amílcar, Abílio, Hélder, Fernando, Raúl, Teófilo, Venceslau, João da Isaltina, Jaime, Antero, Manuel da Mabília, Aires, Forneiro e ou­tros que já se me arredaram da memória. Uma boa parte deles foram óptimos joga­dores e con­tribuíram com o seu esforço pa­ra enaltecer o nome do clube e da Terra. Quando tinham algum jogo con­siderado mais difícil, recorriam a alguns reforços extra-muros; como era o caso do guarda-redes Veiga, de Leomil e do defesa central Zé Macaco, de Moimenta da Beira. Após a Selecção “Maravilha”, arru­mar as botas, uma nova vaga de bons jogadores surgia na ribalta do F.C.S. Eramos nós; os Pivetes, que já nos anos cinquenta, dávamos cartas a jogar futebol. Tínha­mos então um lote de grandes futebo­listas: e cito como exemplo o Lelo, o Dr. Rogério, o Dr. Afonso, o João da Alegria, o Cautela, o Zé Grilo, o António Sequeira, o Zezinho de Isaltina, o Nar­ciso, eu, e outros mais que não cons­tam desta lista por manifesta falta de lembrança.
Confesso, que é com grande emoção que de vez em quando, através de uma obscura fresta da memória já dila­cerada pelo tempo, olho para trás e me curvo perante tais recordações ao descortinar nelas momentos inoIvidá­veis dos anos áureos da minha juventude.
E porque o coração me pede elevo a minha voz e proclamo bem alto… Bendita sejas tu ó minha Terra!... E Bem aventurados sejam os teus filhos para sempre.
Julho de 2000


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