NÓS, OS PIVETES DOS ANOS QUARENTA
por Ilídio Coelho
ET: PLURIBUS UNUM. Um por todos e todos por um.
Era esse o lema dos Fedelhos de palmo e meio do meu tempo, cuja sigla
ostentávamos como ceptro na defesa de classe.
Era, unidos fraternalmente que nós; os meninos da rua, (passe o termo)
praticávamos algumas travessuras; ainda que de pouca monta, por vezes nos
causariam grandes dissabores, não fora a relação amistosa existente no seio do
grupo dos pequenos “mosqueteiros” que respeitava religiosamente o pacto de
sigilo, porque na verdade todos comungávamos dos mesmos ideais. Não pensem porém, que éramos um grupo
organizado de rapazinhos malfeitores. Não… não éramos: nem sequer mal educados!
Éramos sim; uns Pivetes um pouco irreverentes; talvez pelo facto do estarmos
ansiosos em adquirirmos o estatuto de adultos.
Era já o sentimento de superioridade que prevalecia na
nossa mente e comandava a vontade que nos incitava a enveredar pelo caminho
aventureiro dos mais velhos e seguir-lhes as pegadas.
Começávamos então a frequentar ainda que timidamente alguns bailaricos,
sem no entanto despertarmos grande atenção nas pomposas sertanejas, que só
tinham olhares meigos e gestos carinhosos para os farsolas que lhes faziam a corte.
Nós éramos uns pequenos galarós de crista alta que não perdíamos o ensejo de
tentar o momento azado para arrastar a asa às frangotas mais arteiras.
Mas não eram os bailes que mais nos seduzia.
O futebol era sem dúvida a nossa
paixão predilecta; e a concepção deu-se a partir dos tempos da escola, quando nos recreios por
tudo e por nada aprontávamos desafios com os quais vibrávamos imenso; ou não
fossem eles disputados renhidamente entre equipas de Paço e de Aldeia. Os jogos eram então realizados
com bolas de trapos no macadame da estrada, normalmente de pé descalço, com os
dedos esborrachados.
Formara-se o embrião o introduzira-se no sangue da miudagem e lá se
desenvolveu; a partir daí, a bola era o pão nosso de cada dia. Também porque
nos anos quarenta fora a revelação do futebol cm Aldeia de Sendim, e nós, a raia
miúda, tínhamos grande admiração pelos jogadores da época, que penso serem os
pioneiros, bem como os fundadores do Futebol Clube Sendinense.
Uma gama de futebolistas habilidosos e muito raçudos Desse tempo eu recordo
os nomes do Horácio, Totó, Amílcar, Abílio, Hélder, Fernando, Raúl, Teófilo,
Venceslau, João da Isaltina, Jaime, Antero, Manuel da Mabília, Aires, Forneiro
e outros que já se me arredaram da memória. Uma boa parte deles foram óptimos
jogadores e contribuíram com o seu esforço para enaltecer o nome do clube e
da Terra. Quando tinham algum jogo considerado mais difícil, recorriam a
alguns reforços extra-muros; como era o caso do guarda-redes Veiga, de Leomil e
do defesa central Zé Macaco, de Moimenta da Beira. Após a Selecção “Maravilha”,
arrumar as botas, uma nova vaga de bons jogadores surgia na ribalta do F.C.S.
Eramos nós; os Pivetes, que já nos anos cinquenta, dávamos cartas a jogar
futebol. Tínhamos então um lote de grandes futebolistas: e cito como exemplo
o Lelo, o Dr. Rogério, o Dr. Afonso, o João da Alegria, o Cautela, o Zé Grilo,
o António Sequeira, o Zezinho de Isaltina, o Narciso, eu, e outros mais que
não constam desta lista por manifesta falta de lembrança.
Confesso, que é com grande emoção que de vez em quando, através de uma
obscura fresta da memória já dilacerada pelo tempo, olho para trás e me curvo
perante tais recordações ao descortinar nelas momentos inoIvidáveis dos anos
áureos da minha juventude.
E porque o coração me pede elevo a minha voz e
proclamo bem alto… Bendita sejas tu ó minha Terra!... E Bem aventurados sejam
os teus filhos para sempre.
Julho de 2000
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