No encalço de um fim de semana diferente, com mais adrenalina
por Mª Cristina Araújo
Não foi complicado chegar a Sendim.
Reunidos junto ao café Teixeira, em Lugar de Paço, preparamo-nos para
iniciar o primeiro percurso prometido. Era grande a expectativa mas a chuva,
quo não parava de cair, preocupava-nos.
Iniciamos o percurso pedestre pela Rua dos Tornos de Arcos. Mais acima. na
rua do Areal, pudemos observar, rasgada numa parede, uma janela de estiIo
Manuelino. Um exemplar único.
A subida era cada vez mais íngreme e a lama já fazia parte do nosso percurso. Apesar de não estarmos habituados
a caminhos enlameados, na cidade tudo parece artificial, agradou-nos sobretudo
o conjunto de odores que pairavam no ar bem como o postal natural que nos
circundava.
Na Fonte do Polameiro, só depois
de provarmos a água que jorrava, soubemos que, segundo a tradição, quem dela
bebesse acabaria por casar na terra. Foste nosso amigo, Teixeira.
Este passeio levou-nos por lugares encantados por
onde a civilização e o progresso parecem tardar em chegar. Um refúgio ideal e
indispensável para qualquer um de nós.
Na Quinta do
Bom Jardim, desfrutamos de uma vista magnífica para o Vale do Távora e Barragem do
Vilar. Foi o local seleccionado para a fotografia de grupo. Apenas o
aspecto degradante e abandonado das construções que aí ainda existem, quebra
parte do encanto deste local.
Percorrida toda a Serra, alcançamos o núcleo
histórico de Sendim. A sua Igreja Matriz (Stª Mª de
Sendim) rompe na paisagem numa arquitectura simples e austera. Junto ao
adro pudemos observar um conjunto de túmulos antropomórficos, característicos
da Idade Média. Foi bastante interessante a visita ao interior da Igreja.
Vários aspectos decorativos e arquitectónicos, ainda nos contam a sua história
ao longo do tempo. Suscitou-me particular interesse a cruz que encima esta
Igreja bem como a sua pequena torre sineira.
Por ruas estreitas, percorremos
mais alguns metros até ao Solar onde dizem ter habitado os Távoras (distinta família Transmontana), aquando da sua fuga no
reinado de D. José. Descansamos um pouco
no respectivo pátio. É curioso a referência do brasão da família na
frontaria do solar e que teria sido encoberto para que não os conseguissem
identificar.
Pela Via romana, continuamos o nosso
percurso. Algumas das suas pedras parecem não ter sofrido a erosão do tempo.
Agora, sempre a descer, parecia mais simples. A certa altura o grupo
dividiu-se, iniciando percursos distintos. Nós, os mais cansados, preferimos
continuar a nossa caminhada pelo mais curto. Logo de seguida, porque o terreno
se tornou um pouco mais acidentado, assustamo-nos com a queda aparatosa de uma
colega. Mas tudo não passou de um pequeno susto.
Só voltamos a parar junto de um conjunto de túmulos
e lagar romanos nos Vales de Vila e de
Sendim.
Chegamos a Lugar
de Paço ao cair da tarde. Era chegada a hora de um bom duche e de nos
preparamos para o manjar prometido...
No Restaurante, a Tarraxa, agruparam-nos (45
pessoas) à volta de mesas improvisadas de tábuas corridas. Ao centro surge uma
tarraxa de aspecto corroído. Os últimos a chegar, ganharam lugar de destaque em
torno desta tarraxa. A pouco e pouco chegava a comidinha. Canja, Milhos de carne,
carne de vaca grelhada com arroz de feijão e, para a sobremesa, arroz doce que, só pelo seu aspecto, nos fazia
crescer água na boca. No fim foi sorteado um presunto. Foi pena não ter chegado
a Coimbra.
A malta assim arrumada, lá foi depois para a aldeia
de Cabriz, de barriga
cheia.
Numa vivenda recuperada,
acabamos a noite. Foi divertido. Ainda conseguimos dançar e cantar até às
tantas… mesmo assim, recolhemos cedo. O dia seguinte iria ser tão cheio de
aventura e adrenalina, quanto o primeiro.
No Domingo, bastante empolgados,
iniciamos o dia com um percurso de carro até à Srª do Bom Despacho. Esta capela data do séc. XVIII e regista
pormenores decorativos bastante interessantes.
Descemos a pé até às margens
do rio Távora, tendo permanecido durante algum tempo num lugar aprazível de
nome o Contador. Dois Jovens de Rio
Maior já tinham preparado todo o material para o Rappel. Nem todos tiveram a
coragem necessária para descer a encosta em Rappel. Contudo, foi emocionante
observar quem o fez.
Mais tarde faziam-se os
preparativos necessários para o piquenique. A comida estava toda muito boa. As
costeletas grelhadas ao sabor do vento e na brasa improvisada, fez-nos
lembrar os tempos mais primitivos.
A chuva
voltava a cair mas com menos intensidade.
Satisfeitos e de estômago cheio, após uma
breve explicação iniciamos o restante percurso. Agora pela margem esquerda do
rio, em fila, por caminhos estreitos, agrestes o por desbravar, foi possível
sentir aquela adrenalina tão desejada e que muitas vezes nos fez suster a
respiração.
O percurso não foi simples. Contornamos
obstáculos criados pela própria natureza, atravessamos locais húmidos e
escorregadios, precipícios que impunham um
certo respeito e saltamos por rochedos. Todos chegaram ilesos à foz
da Ribeira do Regato, apesar de
alguns percalços em locais, cuja passagem, exigia mais coragem. No geral, foi o
percurso que mais gostei. Deixo aqui um agradecimento ao Sr. Tojal que, durante
o mesmo, nos revelou alguns dos segredos (lendas e crenças) desta zona.
Surpreendeu-nos a sua vitalidade e a forma como transpôs todos estes obstáculos
naturais com maior destreza que nós.
Depressa chegamos a um local chamado Srª da Boa Morte. Ergue-se aqui um
conjunto rural de aglomerados com características castrejas. Estas casas,
construídas em alvenaria tosca com telha romana típica da região, servem
actualmente para armazenar lenha, utensílios agrícolas, etc... Predomina neste
local o Castanheiro.
Cansados e desejosos de mais um duche
quente, iniciamos a viagem para Tabuaço. Ainda antes de chegar ao destino paramos
por alguns instantes num local muito bonito. Na Talisga ou Fradinho, após
percorrida uma escadaria de muitos degraus, pudemos vislumbrar, deste
miradouro, a paisagem avassaladora que se desenrolava aos nossos olhos. Até à
linha do horizonte tudo parecia criado a partir de um conto de fadas. Esta paisagem bucólica, absorveu-nos
completamente.
O Jantar foi mesmo por Tabuaço. Já nada nos
conseguia mover. Precisávamos de recuperar o fôlego.
O convívio foi parte integrante desta viagem.
Regenerados, na manhã seguinte regressamos a
Coimbra.
Na escola, durante a semana seguinte, não falámos
de outra coisa. Todos quiseram ver as nossas fotografias. Foi um fim-de-semana
que, tão depressa, ninguém o esquecerá.
E Hoje, é fazer planos para regressar uma e outra
vez.
Obrigado a todos quantos tornaram possível este fim-de-semana.
Mª Cristina Araújo
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