quarta-feira, 16 de abril de 2014

NO ENCALÇO DE UM FIM DE SEMANA DIFERENTE, COM MAIS ADRENALINA - Boletins antigos - Nº 5 - ano 2000

No encalço de um fim de semana diferente, com mais adrenalina
por Mª Cristina Araújo

      Não foi complicado chegar a Sendim.
Reunidos junto ao café Teixeira, em Lugar de Paço, preparamo-nos para iniciar o primeiro percurso prometido. Era grande a expectativa mas a chuva, quo não parava de cair, preocupava-nos.
      Iniciamos o percurso pedestre pela Rua dos Tornos de Arcos. Mais acima. na rua do Areal, pudemos observar, rasgada numa parede, uma janela de estiIo Manuelino. Um exemplar único.
     A subida era cada vez mais íngreme e a lama já fazia parte do nosso percurso. Apesar de não estarmos habituados a caminhos enlameados, na cidade tudo parece artificial, agradou-nos sobretudo o conjunto de odores que pairavam no ar bem como o postal natural que nos circundava.
       Na Fonte do Polameiro, só depois de provarmos a água que jorrava, soubemos que, segundo a tradição, quem dela bebesse acabaria por casar na terra. Foste nosso amigo, Teixeira.
Este passeio levou-nos por lugares encantados por onde a civilização e o progresso parecem tardar em chegar. Um refúgio ideal e indispensável para qualquer um de nós.

Na Quinta do Bom Jardim, desfru­tamos de uma vista magnífica para o Vale do Távora e Barragem do Vilar. Foi o local seleccionado para a fotografia de grupo. Apenas o aspecto degradante e abandonado das construções que aí ainda existem, quebra parte do encanto deste local.
Percorrida toda a Serra, alcançamos o núcleo histórico de Sendim. A sua Igreja Matriz (Stª Mª de Sendim) rompe na paisagem numa arquitectura simples e austera. Junto ao adro pudemos observar um conjunto de túmulos antropomórficos, característicos da Idade Média. Foi bastante interessante a visita ao interior da Igreja. Vários aspectos decorativos e arquitectónicos, ainda nos contam a sua história ao longo do tempo. Suscitou-me particular interesse a cruz que encima esta Igreja bem como a sua pequena torre sineira.
Por ruas estreitas, percorremos mais alguns metros até ao Solar onde dizem ter habitado os Távoras (distinta família Transmontana), aquando da sua fuga no reinado de D. José. Descansamos um pouco no respectivo pátio. É curioso a referência do brasão da família na frontaria do solar e que teria sido encoberto para que não os conseguissem identificar.

Pela Via romana, continuamos o nosso percurso. Algumas das suas pedras parecem não ter sofrido a erosão do tempo. Agora, sempre a descer, parecia mais simples. A certa altura o grupo dividiu-se, iniciando percursos distintos. Nós, os mais cansados, preferimos continuar a nossa caminhada pelo mais curto. Logo de seguida, porque o terreno se tornou um pouco mais acidentado, assustamo-nos com a queda aparatosa de uma colega. Mas tudo não passou de um pequeno susto.
Só voltamos a parar junto de um conjunto de túmulos e lagar romanos nos Vales de Vila e de Sendim.
Chegamos a Lugar de Paço ao cair da tarde. Era chegada a hora de um bom duche e de nos preparamos para o manjar prometido...
No Restaurante, a Tarraxa, agruparam-nos (45 pessoas) à volta de mesas improvisadas de tábuas corridas. Ao centro surge uma tarraxa de aspecto corroído. Os últimos a chegar, ganharam lugar de destaque em torno desta tarraxa. A pouco e pouco chegava a comidinha. Canja, Milhos de carne, carne de vaca grelhada com arroz de feijão e, para a sobremesa, arroz doce que, só pelo seu as­pecto, nos fazia crescer água na boca. No fim foi sorteado um presunto. Foi pena não ter chegado a Coimbra.

A malta assim arruma­da, lá foi depois para a aldeia de Cabriz, de barri­ga cheia.
Numa vivenda recuperada, acabamos a noite. Foi divertido. Ainda conseguimos dançar e cantar até às tantas… mesmo assim, recolhemos cedo. O dia seguinte iria ser tão cheio de aventura e adrenalina, quanto o primeiro.
No Domingo, bastante empolgados, iniciamos o dia com um percurso de car­ro até à Srª do Bom Despacho. Esta capela data do séc. XVIII e regista por­menores decorativos bastante interes­santes.
Descemos a pé até às margens do rio Távora, tendo permanecido durante algum tempo num lugar aprazível de nome o Contador. Dois Jovens de Rio Maior já tinham preparado todo o material para o Rappel. Nem todos tiveram a coragem necessária para descer a encosta em Rappel. Contudo, foi emocionante observar quem o fez.
Mais tarde faziam-se os preparativos necessários para o piquenique. A comida estava toda mui­to boa. As coste­letas grelhadas ao sabor do ven­to e na brasa improvisada, fez-­nos lembrar os tempos mais primitivos.
   A chuva vol­tava a cair mas com menos in­tensidade.
   Satisfeitos e de estômago cheio, após uma breve explicação iniciamos o restante percurso. Agora pela margem esquerda do rio, em fila, por caminhos estreitos, agrestes o por desbravar, foi possível sentir aquela adrenalina tão desejada e que muitas vezes nos fez suster a respiração.
   O percurso não foi simples. Contor­namos obstáculos criados pela própria natureza, atravessamos locais húmidos e escorregadios, precipícios que impunham um certo respeito e saltamos por rochedos. Todos chegaram ilesos à foz da Ribeira do Regato, apesar de alguns percalços em locais, cuja passagem, exigia mais coragem. No geral, foi o percurso que mais gostei. Deixo aqui um agradecimento ao Sr. Tojal que, durante o mesmo, nos revelou alguns dos segredos (lendas e crenças) desta zona. Surpreendeu-nos a sua vitalidade e a forma como transpôs todos estes obstáculos naturais com maior destreza que nós.
   Depressa chegamos a um local chamado Srª da Boa Morte. Ergue-se aqui um conjunto rural de aglomerados com características castrejas. Estas casas, construídas em alvenaria tosca com telha romana típica da região, servem actualmente para armazenar lenha, utensílios agrícolas, etc... Predomina neste local o Castanheiro.

   Cansados e desejosos de mais um duche quente, iniciamos a viagem para Tabuaço. Ainda antes de chegar ao destino paramos por alguns instantes num local muito bonito. Na Talisga ou Fradinho, após percorrida uma escadaria de muitos degraus, pudemos vislumbrar, deste miradouro, a paisagem avassa­ladora que se desenrolava aos nossos olhos. Até à linha do horizonte tudo parecia criado a partir de um conto de fadas. Esta paisagem bucólica, absorveu-nos completamente.
O Jantar foi mesmo por Tabuaço. Já nada nos conseguia mover. Precisá­vamos de recuperar o fôlego.
O convívio foi parte integrante desta viagem.
Regenerados, na manhã seguinte regressamos a Coimbra.
Na escola, durante a semana seguin­te, não falámos de outra coisa. Todos quiseram ver as nossas fotografias. Foi um fim-de-semana que, tão depressa, ninguém o esquecerá.
E Hoje, é fazer planos para regressar uma e outra vez.
Obrigado a todos quantos tornaram possível este fim-de-semana.

Mª Cristina Araújo

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