domingo, 14 de julho de 2013

Paredes da Beira - II (Boletins Antigos nº 3)

POR TERRAS DA REGIÃO
Paredes da Beira Cidade do Sol Rodeada de Sete Castelos – II
OUTUBRO DE 1999

Ricardo Costa
Paredes da Beira - Vista Geral

(Continuação do último número)
A Capela dos Santos Mártires é obra e pertença da família dos Azevedos Os restos mortais ou o esqueleto ósseo dos dois santos mártires S. Paulo e S. Félix que ali se encontram em redomas de vidro, foram soldados mortos em Africa e familiares dos Azevedos.
Conta a lenda que vieram numas mulas e ao chegarem em frente do solar pararam e dali não saíram até que aquela lindíssima capela de granito lhe fora construída, todos aqueles rendilhados feitos com tanta perfeição tanto no interior como no exterior e na Cruz que se encontra no cimo do telhado é uma maravilha de obra de arte Há também outra Cruz que se encontra bem guardada e que contém 1771 relíquias dos santos. A tudo isto podemos juntar a fé de todos os filhos desta terra e dos peregrinos que todos os anos continuam a vir de muito longe e em grande número a afirmar a fé nos seus Santos Mártires.

Capela dos Santos Mártires

            Diz a lenda que os bois que transportaram a pedra para a construção da capela não tinham lavrador, iam e vinham da pedreira sem guia, talvez já por milagre dos Santos Mártires.
Quanto ao Solar dos Azevedos deve a casa mais antiga de Pareces da Beira embora já tivesse tido alguns restauros e aumentos, que se pode constatar no interior das lojas. Havia nela uma torre de pedra, ainda hoje se notam vestígios dessa torre e daí lhe veio o nome de Quinta da Torre ou das Pedras e o muro que serve de proteção à cerca e ao próprio solar, foi construído por prisioneiros. Hoje meio destruído no seu comprimento devido à venda da cerca a um agricultor local.

Solar dos Azevedos

Na estrada via Riodades, mais propriamente no lugar da Areite do lado poente, encontra-se uma Anta ou Dólmen e duzentos metros à frente do lado Nascente uma outra que foi totalmente destruída e ainda 200 metros mais a sul num terreno pertencente à Junta de Freguesia encontra-se outra Anta ainda intacta. Há conhecimento de outras neste local, que há muitos anos foram destruídas e no meio delas passava a Estrada Nacional Romana que dava ligação a Coimbra e nas fraldas da serra de Reboredo junto a Soutelo encontram-se duas sepulturas escavadas na rocha.

Anta de Areite

No seguimento da estrada romana, no lugar dos Chãos Redadeiros, por baixo da serra de Sampaio junto ao caminho que dá ligação aos vários moinhos que eram movidos com a água da Ribeira dos Gale­gos, encontram-se as paredes destruídas do que foi uma grande estalagem com muitas divisões que dava apoio e guarida a quem viajava por essa estrada romana.
Paredes da Beira foi concelho durante muitos anos, teve forais desde D. Fernando Magno antes da Nacionalidade, confirmado por D. Afonso Henriques em Dezembro de 1169 e por todos os reis de Portugal até D. Manuel em 1512 e no seu concelho engloba Riodades e Vale de Penela. Teve Paços do Concelho, Cadeia, Forca e Pelourinho, todos os serviços autónomos desse tempo.

Pelourinho

         Falando da Igreja Matriz, é muito antiga e muito bonita, em especial o seu Altar-Mor, todo em talha dourada e teto feito em quadros pintados a óleo representando figuras de santos célebres, obra linda, de rara beleza e de muito valor histórico e artístico. Diz a história que foi edificada numa mesquita dos Mouros e foi aumentada no seu tamanho primitivo tanto na altura como no comprimento. À volta tem o adro da Igreja que antigamente serviu de cemitério, e até no seu interior, depois deste último restauro ainda se podem ver as pedras das sepulturas numeradas. Junto ao adro da Igreja encontra-se novamente o Pelourinho que graças ao esfor­ço feito pela Jun­ta de Freguesia conseguiu reunir algumas das suas peças e proceder ao seu restauro colo­cando-o no seu lugar primitivo.

Igreja Matriz

Conselheiros e Pregão dois nomes de lu­gares que nós conhecemos e desconhece­mos o seu significado. Largo dos Conselhei­ros era o sítio mais propriamente na histórica casa do Veiga num salão onde havia um antiquíssimo Oratório (que ele há anos vendera). Era ali que se reuniam os Conse­lheiros desta terra e depois de terem chegado a acordo sobre as leis discutidas, eram divulgadas ou ditadas ao povo do cimo do Outeiro do Pregão. Da história resulta o batismo dos dois lugares.
Ali, antigamente, também se situava um castelo, nome porque é conhecido esse lugar, e mais ao lado a Buraca da Moira que é uma mina e que segundo a lenda era onde a Moiro guardava o seu tesouro.
Dali a escassos metros só com uma rocha, isto é, escavada na própria rocha há a uma casa que tem a dimensão de um quarto grande e foi habitada. É digna de se ver.
No cimo do Monte situava-se o Castelo-Mor ou da Montanha do qual se vêem vestígios de parte da muralha.
São dignos de menção, o Cruzeiro das Alminhas, que se encontra junto à estrada num cruzamento de caminhos no lugar de S. Eulália que é muito antigo. Há outro mais recente em Rebordinho, do lado direito da estrada via Trevões. Neste último, ainda se notam agumas letras a tinta, mas irreconhe­cíveis. Antigamente, quando se passava a pé ou a cavalo junto dos Cruzeiros, havia o hábito de tirar o chapéu e rezar, hábito que caiu em desuso.
Possuímos também um Cruzeiro situado no lugar com o mesmo nome em que se lê Cruzeiro da Independência 1743 e tem em cada um dos seus oito degraus datas de acontecimentos da História de Portugal.
Presentemente nesse lugar do Cruzeiro foi construído um bairro de casas modernas muito bonitas, um posto de abastecimento e um armazém de frutas.
Há no largo do Loureiro um Cruzeiro a lembrar a Restauração de Portugal e ao lado, a Casa Agrícola do Cruzeiro. Em tempos foi uma das maiores casas agrícolas desta terra, pertencente à família Amado. Há também no largo do Rossio, um Cruzeiro de 1940, que contém na sua inscrição o sétimo centenário da Independência e o terceiro da Restauração.
Há ainda mais dois cruzeiros ou cruzes em pedra, no Santo e Santa Eulália, sem qualquer inscrição.

Relógio

Dos sete castelos de Paredes, dessa valentia de outrora, das várias vitórias e derrotas deste povo guerreiro, das fortalezas edificadas e várias vezes arrasadas e reconstruídas, apenas restam os seus lugares e amontoados de pedras,a lembrar o passado destas gentes. São eles: Castelos de Marganhos, Castelo da Fraga de Alcária, Castelo do Outeiro Alto, Castelo de Reboredo, Castelo Velho, Castelo de Chão de Trovisco e Caselo Mor ou da Montanha Praça de mouros. Este parece ter sido o mais importante, servindo de vigia de toda a região devido à sua localização. Diz a lenda que daqui se podia comunicar com vários castelos, incluindo o Castelo de Cabriz na margem poente do rio Távora, através de sinais, tornando-se assim a forma mais rápida de reunir os seus guerreiros.
Os anos e a história amadureceram seus guerreiros e fez deles gente boa e pacífica e chegam até nós como herança, em vez de sete castelos, sete humildes capelas que hoje podemos visitar, meditar e orar são elas: Santa Eulália, Senhora da Assunção, Mártir S. Sebastião, Santos Mártires, S. Caetano, S. Salvador e Igreja Matriz com S. Bartolo­meu padroeiro de Paredes da Beira.
Tiveram também grande importância na vida dos habitantes de Paredes da Beira as suas fontes e lavadouros. Sendo de salientar aqui as mais antigas. Fonte da Seara de que já falei, Fonte da Lama, Fonte de Vale de Vila fonte e lavadouro de Rebordinho, esta em virtude de novas explorações de água acabou por secar Fonte e lavadouros da Curtinha e do Tanque da Igreja estas construídas em 1 900. As fontes do Santo e a fonte S.Salvador na Portela não têm qualquer inscrição. Esta última é muito antiga.
De solares abrasonados temos o da Quinta dos Azevedos de que já se fez referencia. Há realmente lindas casas algumas já seculares feitas em granito bem trabalhado. Merece destaque a casa que foi da família Nunes (comerciante que fez vida no Brasil). Outras há, embora de menor dimensão, dispersas por toda a freguesia, que são dignas do valor arquitetónico que encerram. Merece especial referência a casa do Clube, que devido á sua lindíssima facha­da ornamenta a sala de visitas ou asseia o Largo da Praça.
Todas estas casas, juntamente com as obras modernas do presente, fazem no seu conjunto, a maravilha de Freguesia que é PAREDES DA BEIRA CIDADE DO SOL.


Pinturas Rupestres - Fraga d'Aia