segunda-feira, 24 de março de 2014

Descobertas no Passeio pela Aldeia - Bol. Antigos - nº 4 - ano 2000

DESCOBERTAS NO PASSEIO PELA ALDEIA
Fernando Carlos Taveira Cardoso Teixeira

Casa de características medievais contendo Janela Manuelina
Rua do Areal - Aldeia

     Quando percorremos o lugar de Aldeia deparamo-­nos com um sítio que espelha um património histórico e arquitectónico cheio de surpresas. As ruas mais marcantes mantêm ainda alguma vivência devido ao comércio ali existente. Refiro-me em particular à rua do Areal onde existe uma típica taberna. Na rua em frente ao estabelecimento, principalmente ao fim-de-semana, podemos encon­trar um conjunto de pessoas, sobretudo homens, entretidos em jogos ou conversas. Ali podemos escutar alguns regionalismos na sua linguagem, a entoação, o olhar daquelas gentes e a sua postura revela-nos caracteres que se mantêm nos mais antigos e tendem a desaparecer nos mais novos.
     Se prestamos atenção, à nossa volta observam-se ruas e uma urbe relativamente densa de construções em pedra implantadas em banda ao longo de antigos caminhos. Aquele cenádo enquadra a acção dos jogos, palavras e uns copos de vinho à mistura saboreados por aquelas gentes.
     Percorrendo aquela rua sentimos alguma imponência transmitida pelas casas que a ladeiam, quase todas de dois pisos, em pedra com restos de cal agarrada às paredes e com telhados de telha de canudo corada pelo tempo. Naquele momento apercebo-me que pelo tipo de um beirado, pelo desenho de uma varanda em madeira, escada exterior, pelas grades em ferro que protegem janelas e pelas robustas portas em madeira de castanho, se revelam as características da sociedade que ali viveu. Seria gente de posses, proprietários, que construíram na rua principal, ou comerciantes que se instalaram para a venda dos seus produtos, ali deixando datas exibidas nas fachadas, 1649, 1683, 1715, 1779, mostrando-nos o tempo daquele lugar.

Janela Manuelina
existente na Rua do Areal - Aldeia

     Mas, o mais surpreendente surge em frente à casa do senhor Zé Gonçalves, refiro-me ao pormenor de uma pequena janela em cantaria de arco, de caracte­rísticas Manuelinas. Paro e recordo no fundo da minha memória:
     - Passo a passo, caminho no traçado da antiga estrada Romana; de certo essa via condicionou a ocupação daquele espaço desde muito cedo. É prova disso as características da habitação que contém aquela janela, francamente medievais. Mais à frente, passando o lar da terceira idade, encontro no mesmo chão as pedras do que resta de outra janela Manuelina, destruída para no seu lugar se fazer a entrada de uma garagem. Que pena? Pensei... E sem dizer nada caminhei pela rua dos Tornos de Arcos onde ao fundo se mantém ainda o que resta do pavimento da dita estrada, destruída no final deste século, ficando apenas o registo foto­gráfico que tirei a tempo de mostrar aos outros, aquilo que agora só é memória...
Sendim, Verão de 1999
Fernando Carlos Taveira Cardoso Teixeira

Janela Manuelina demolida
ao fundo do Largo Prof. Serra


Sem comentários: