terça-feira, 11 de abril de 2017

"O SENHOR DA BOA MORTE" JUNTO A CABRIS... - Boletins antigos - nº8

Lugares do Nosso Património
"O SENHOR DA BOA MORTE" JUNTO A CABRIS

Por: Fernando Carlos Taveira Cardoso Teixeira
(Março de 2002)


      A nossa região é rica em lugares e imóveis com grande interesse patrimonial. Estes espaços e construções são muitas vezes desconhecidos pelos próprios locais. E sempre bom lembrar que fazem parte de uma memória viva dos nossos antepassados. Muilos deles pertenceram às nossas próprias famílias. Falo deste modo por pensar que a nossa sociedade preserva o espírito e a essência da família, mas muitas vezes ignora as obras arquitetónicas, culturais e sociais que os nossos antepassados com muito esforço e dedicação fizeram. E esta incoerência que, ao mesmo tempo com outros fatores, tem levado ao esquecimento de setores tradicionais da nossa economia, da degradação da nossa paisagem e da nossa cultura local. É com muita mágoa que vemos constantemente a destruição da paisagem tradicional, nomeadamente, através do retirar de pedras de antigos muros que ladeiam caminhos e lugares, muitos deles remon­tando aos primórdios da nacionalidade. E há mesmo casos em que essas pedras carregadas de história são vendidas aos nossos Irmãos Espanhóis?!
      Também existem zonas de explo­ração, as pedreiras... Estes locais depois
de explorados, são muitas vezes abandonados, tornando-se feridas na paisagem, como aconteceu com a pe­dreira da Barragem do Vilar que desde os anos quarenta assim permanece.
      Muitos mais exemplos poderíamos citar, mas, a ideia deste artigo é divulgar o património, por isso, hoje apresento-vos um lugar encantador: “O Senhor da Boa Morte”, junto a Cabris. A existên­cia deste lugar deve-se, segundo explicação de populares, à necessidade do povo de Cabris guardar o pão junto à Quinta do Pinheiro, lugar que tinha uma grande eira que hoje se encontra completamente abandonado.
         Este conjunto arquitectónico apre­senta-nos uma expressão popular e rústica com a aplicação e utilização de materiais vernaculares. Os edifícios são rasteiros, de pequena escala, ladeando caminhos rurais, adaptando-se perfeita­mente ao terreno e paisagem. As pedras que constituem as casas assentam sobre penedos como se fossem um prolonga­mento da natureza. Apenas se vê no rude murado de granito destas edificações uma pequena porta de madeira, tosca e envelhecido pelo tempo. As coberturas dc duas águas são como delicadas mantas cobrindo um único espaço forçosamente tornado rectilíneo através do esforço e vontade humana de dominar esta natureza agreste.



     Este conjunto arquitetónico faz-me lembrar habitações pré-históricas, construídas por pedras arranjadas e travadas por cunhais toscos e rudes. Estes palhais formaram um aglomerado ao serem construídos encostados com o aproveitamento de paredes “meias”. Ao mesmo tempo, acrescentaram a estes palhais pequenas cercas, como se estas construções estendessem dois fortes braços murados, onde se abre um portal...
         Há cerca de dois anos, rompeu-se uma nova estrada que arrasou por completo o antigo caminho medieval, que dava acesso a este lugar. A visita agora tomou-se mais fácil pois podemos ir ali de carro... Por enquanto, restam os “palhais”, não sabemos se por muito tempo. Pois o acesso fácil pode, por um lado, levar a um bom aproveitamento turístico deste conjunto, mas também pode conduzir à sua total destruição.
         Foi pena não se ter mantido aquele caminho dc pedras medievais. Sentiríamos com maior rigor o tempo daquele sítio e seria uma mais valia para o património da nossa região…

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