Uma Caminhada pelo Campo
por Cíntia Vargas
em outubro de 1999
Era ainda cedo quando nós começámos a caminhada.
No grupo havia biólogos, arqueólogos, professores de História, Geografia, Inglês, Português, Educação Física, e pessoas com interesses pela preservação do nosso património e que gostam de turismo rural.
O sol despontava e nós, cheios de energia, não imaginávamos o que iríamos encontrar.
Logo de início, ao caminharmos pelo vale de Sendim, encontrámos cerâmica romana, vestígios de uma civilização sobre a qual muito se tem ainda que descobrir. É bem possível que por baixo das vinhas, dos terrenos, e mesmo das casas de habitação, existam outros vestígios reveladores da presença dos romanos.
Passámos pelo caminho romano, e, embora grande parte se tenha já perdido, é de louvar o interesse que as pessoas da terra tiveram em manter este legado histórico. Trata-se de uma via bastante larga, com uma extensão algo considerável e muito bem conservada. Se fechássemos os olhos por instantes, bem podíamos imaginar que estávamos noutros tempos, perdidos entre o mundo romano e os caminhos medievais.
Junto à Igreja da antiga vila de Sendim, devem salientar-se os enterramentos de forma antropomórfica, característicos da Idade Média. São conhecidos dez, mas é impossível imaginar
quantos mais não existirão, agora soterrados pelo tempo e pela acção humana. Pensa-se que este cemitério terá sido utilizado ao longo de várias épocas.
Detivemo-nos uns instantes a descansar no pátio de um solar que se pensa ter sido habitado pelos Távoras, aquando da fuga daquela família, no reinado de D. José. O brasão em pedra que ali existe é algo diferente de outros brasões da família publicados em livros, pelo que nos fica a dúvida sobre a ligação da família dos Távoras ao local.
Há também 3 tipos de cruzeiros e várias fontes. Mais uma vez os naturais da região contaram aos forasteiros a lenda da Fonte do Poiameiro: "quem beber desta água casa na terra". Sorrindo ao feitiço da terra, lá fomos bebendo, pois osol apertava e a sede era muita.
Um pouco atrás, na Quinta do Bom Jardim, o Dr. Vítor Matos tinha falado um pouco sobre o carácter purificador da água e da sua associação à simbologia cristã.
Já na povoação, visitámos o forno da terra e a moagem que é um edifício que serve simultaneamente de habitação aos proprietários.
Mas Sendim ainda tem mais: tem a sua igreja, tem as quintas de São Martinho e do Bom Jardim, tem imensas gravuras e inscrições, tem um pelourinho como símbolo de autonomia
concelhia.
Sendim não prima apenas pelo aspecto histórico; prima também pelas suas gentes.
As refeições que tomámos, quer na Por: Cintia Vargas adega típica, quer no almoço conjunto, foram do melhor. Comida caseira de alta qualidade e de querer repetir sem olhar a dietas.
Juntando um património de vários séculos à simpatia do povo e à gastronomia da região, tem-se Sendim, uma aldeia perdida em terras de Trás-os-Montes.
Quer dizer, perdida não, porque nós já a encontrámos e a Associação dos Amigos da Região Tedo-Távora quer divulgara aldeia para que outros a conheçam. Mas é preciso agir com precaução, pois Sendim não pode perder as casas típicas, os vestígios seculares e tudo o resto em que ela prima.
Entre dois rios, brotando da rocha, nasceram tradições e paisagens que é preciso manter firme e preservar.
É para isso que servem os Amigos!
Sem comentários:
Enviar um comentário