segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Manuel Aleijado - Personagens da nossa terra - Boletins Antigos (Bol. 8)

Personagens da Nossa Terra
“O Manuel Aleijado”

     Por: Fernando Licínio Cardoso Teixeira
(Março de 2002)


      Existiu no século passado na nossa Fre­guesia o Senhor Manuel Monteiro, conhecido por “Manuel Aleijado” por ser aleijado dos membros inferiores. Movia-se com duas muletas de pau rijo, construídas em freixo ou amieiro. Na parte de baixo destas muletas estava pregada uma brocha e no cimo do pau havia um sistema de encaixe, que ele colocava debaixo dos braços. Graças a este sistema o homem movia-se com facilidade e rapidez com um balancear muito próprio.
O “Manuel Aleijado” era soqueiro: fazia do pau de Amieiro perfeitas formas que encaixavam nas “empanhas” das botas e socos. Os socos feitos por ele permitiam um belo andar e os pés raramente arrefeciam.
         Recordo-me, era ainda criança, que passávamos entretidos algum tempo a ver fazer essas formas que saiam das mãos habilidosas daquele artista. Por vezes, recebíamos uma forma de soco pequena, com que adorávamos brincar. O seu local de trabalho era a frente da sua casa. Como hoje, estou a vê-lo naquele tempo sentado numa pedra, ao sol, com um aparelho feito de madeira, no qual batia na madeira teimosamente, proporcionando-nos a possibilidade de admirar a beleza do seu trabalho.
         Era um homem com boa disposição e muito alegre. Frequentava habitualmente a antiga taberna da Sra. Conceição, conhecida também por “Isaltina”. Por vezes, metiam-se com ele e na brincadeira ou mais a sério “trabalhava a muleta” contra os garotos que fugiam a sete pés.
         Quando o material faltava para o seu trabalho, sendo inverno ou verão, deslocava-se à beira do Rio Távora. Com ele caminhavam duas burras, para carregarem a madeira de amieiro que ao longo dos anos ia nascendo, nas terras molhadas, ao longo do leito do rio.
         A profissão minuciosa e uma grande energia deram-lhe um razoável viver, que gozou durante muitos anos com a mulher e três filhos.
         Nos tempos de hoje, esta profissão perdeu-se no tempo; agora apenas vemos socos feitos por máquinas e o som do seu bater na calçada da nossa aldeia, apenas se sente na saudade das nossas recordações...

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