Personagens da Nossa Terra
“O Manuel Aleijado”
Por: Fernando Licínio Cardoso
Teixeira
(Março de 2002)
Existiu no século
passado na nossa Freguesia o Senhor Manuel Monteiro, conhecido por “Manuel
Aleijado” por ser aleijado dos membros inferiores. Movia-se com duas
muletas de pau rijo, construídas em freixo ou amieiro. Na parte de baixo destas
muletas estava pregada uma brocha e no cimo do pau havia um sistema de encaixe,
que ele colocava debaixo dos braços. Graças a este sistema o homem movia-se com
facilidade e rapidez com um balancear muito próprio.
O “Manuel
Aleijado” era soqueiro: fazia do pau de Amieiro perfeitas formas que encaixavam
nas “empanhas” das botas e socos. Os socos feitos por ele permitiam um belo
andar e os pés raramente arrefeciam.
Recordo-me,
era ainda criança, que passávamos entretidos algum tempo a ver fazer essas formas
que saiam das mãos habilidosas daquele artista. Por vezes, recebíamos uma forma
de soco pequena, com que adorávamos brincar. O seu local de trabalho era a
frente da sua casa. Como hoje, estou a vê-lo naquele tempo sentado numa pedra,
ao sol, com um aparelho feito de madeira, no qual batia na madeira
teimosamente, proporcionando-nos a possibilidade de admirar a beleza do seu
trabalho.
Era um
homem com boa disposição e muito alegre. Frequentava habitualmente a antiga
taberna da Sra. Conceição, conhecida também por “Isaltina”. Por
vezes, metiam-se com ele e na brincadeira ou mais a sério “trabalhava a muleta”
contra os garotos que fugiam a sete pés.
Quando o
material faltava para o seu trabalho, sendo inverno ou verão, deslocava-se à
beira do Rio Távora. Com ele caminhavam duas burras, para carregarem a madeira
de amieiro que ao longo dos anos ia nascendo, nas terras molhadas, ao longo do
leito do rio.
A
profissão minuciosa e uma grande energia deram-lhe um razoável viver, que gozou
durante muitos anos com a mulher e três filhos.
Nos
tempos de hoje, esta profissão perdeu-se no tempo; agora apenas vemos socos
feitos por máquinas e o som do seu bater na calçada da nossa aldeia, apenas se
sente na saudade das nossas recordações...
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